Um e-mail para Deus
Um e-mail para Deus
O Elcir é um daqueles sujeitos malucos que não se importam passar uma noite inteira na porta de uma loja para ser o primeiro a comprar um novo de modelo de computador no dia de seu lançamento ou um software de nova geração, por isso não me espantei quando ele mostrou um novo aparelho de celular que comporta quatro chips; isto é, pode ser conectado a quatro operadoras ao mesmo tempo. Adeus privacidade, adeus sossego! Um só número de celular já nos tira a tranqüilidade, quanto mais quatro!
O homem nunca teve à disposição tantos meios de comunicação como agora, mas ao meu ver, nunca se comunicou tão mal. Lá no escritório da empresa em que trabalho estamos acomodados no que se costuma chamar de workstations, ou estações de trabalho com tradução ao pé da letra, entre uma estação e outra não há mais do que dois metros, mas ao invés de um funcionário se dirigir ao outro através de diálogo, preferem as novas tecnologias; Skype, MSN; chat; e-mail etc... Perdem um tempo enorme, e quase sempre geram um mal entendido. Eles possuem uma linguagem própria para o bate-papo ; naum, bj, tks, vc e na hora das brigas se xingam usando siglas; VTC, PQP, FDP, BNB etc.
Recentemente estive na Catedral de Milão e fiz questão de bater uma foto ao lado de uma placa onde era anunciado “Jesus on the web” depois vim saber que aqui no Brasil, na Igreja de Aparecida, você pode acender uma vela virtual através da internet. Na Europa por trinta centavos de euro por minuto você pode fazer uma confissão por telefone e falar diretamente com um computador que acaba fazendo as funções de sacerdote - só não sei se o tal computador-padre impõe penitência ou dá absolvição.
Há muito tempo eu não vejo, e duvido que alguém veja com freqüência, cartas escritas a mão como se fazia antigamente. As pessoas não têm mais tempo para gastar escrevendo longas cartas, os meios eletrônicos são muito mais rápidos apesar de nada românticos. Com as fotografias não é diferente, as máquinas digitais puseram para escanteio para sempre as rolleiflex que usavam filmes em rolos. Junto com a aposentadoria das velhas máquinas se foi também a emoção da fotografia. Lembro que batíamos a foto e depois que o rolo de filme terminava tínhamos que mandar para um laboratório, revelar e fazer as cópias em papel, isso às vezes demorava uma semana, a expectativa era grande para sabermos se a foto não tinha “queimado”, ou se tinha ficado bem focada. Agora, um sujeito munido de uma câmera digital pode bater centenas de fotos em um só dia e ver o resultado no instante em que bate a foto, acabou a expectativa, tanta foto acaba com o prazer. Não é questão de saudosismo, mas muitas coisas que antes nos davam algum prazer se tornaram corriqueiras e estamos sempre procurando novas emoções. Mas até quando isso vai continuar?
Ultimamente tenho falado com meus amigos muito mais por e-mail e skype do que pessoalmente, movimento conta bancária, posso comprar comida e remédios sem sair de casa, cursar até mesmo pós-graduação, tudo pela internet. Pode ser cômodo não ter que ir ao banco, ou a uma loja, e até mesmo na universidade, mas o relacionamento humano, o calor humano, está diminuindo, isso eu posso sentir.
Não tarda o momento em que deixaremos de lado a oração para nos dirigirmos a Deus através de e-mail. Alguém já tem o endereço?