Respostas

Ver e olhar não são a mesma coisa. Para ver, basta o direcionamento dos olhos somente. Você pode ver e não olhar. Olhar exige inspeção, análise, envolvimento. Quando saio às ruas, olho com meus olhos de cronista procurando um fato qualquer que me faça despertar o interesse, que me chame atenção, que me destaque de dentro de mim mesma. E é nesse momento que vejo as coisas, digo, que olho as coisas que estão no mundo lá fora, mas que estão principalmente dentro de mim.

Meu filho, quando fala comigo, exige meu olhar atento. Se eu não olhar para ele, também não estou ouvindo. Assim ele me diz, com estas palavras: “meu ouça, mas me ouça de verdade, olhando para o que eu estou te dizendo”. E meu olhar atento de mãe escuta o que ele diz.

Outro dia, passei por uma moradora de rua, que já nos é familiar, pois todo dia a vemos, com seus saquinhos, sua garrafa d’água, e outras coisas que ela recebe por acréscimo de misericórdia dos moradores da rua; e olhei para ela. Olhei para sua tristeza, para seu abandono, para suas marcas, para a ausência de seu cachorrinho morto... olhei para as mazelas do mundo. Olhei para nossa indiferença, nossa falta de amor, nosso desinteresse pelo ser humano. Ela é invisível, constatei. É invisível porque vemos todos os dias e não olhamos. E nos conformamos, vivemos na mediocridade de permitir que um ser tão humano quanto nossos filhos, nossos pais, viva assim.

E continuamos a vida vendo ás vezes, olhando outras; fingindo, sobrevivendo, ganhando, perdendo, envelhecendo, crescendo...

Muitas vezes não entendemos o que passamos, o que sentimos... não entendemos as catástrofes, não nos entendemos, não entendemos o outro. Mas sei que há uma resposta. E que nem sempre compreendemos, mas o mundo é vasto embora caiba na janela de amar, como diz o poeta; e nessa vastidão vamos olhando e olhando mais, e nesse encontro, mundo exterior – mundo interior, vamos achando as respostas.

Barbara Bittencourt
Enviado por Barbara Bittencourt em 13/03/2011
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