MEMÓRIAS DE UMA INTERNA - III

A vida, que poderia parecer monótona, fervilhava entre os muros dos internato. Afinal umas quarenta meninas, entre dez e quinze anos, não poderiam ficar quietas sempre. E nós aprontávamos! As guerras de travesseiro eram comuns, logo que a freira responsável pelo dormitório apagava as luzes e fechava a porta. Até a noite em que um travesseiro saiu voando por uma janela e foi parar na calçada, em frente à escola. Xingão prá cá, xingão prá lá, ninguém foi, ninguém viu, ninguém entregou ninguém e saímos incólumes de um possível castigo. O que não aconteceu numa noite em que as freiras ensaiavam seus cânticos num salão e nós pedimos para participar. Mas quem disse que parávamos quietas! A nós não interessavam os cantos, queríamos apenas esticar o horário de dormir. Fomos sumariamente expulsas do salão. Eu já estava sonhando quando, repentinamente, a luz se acendeu. "Todo mundo em pé", vociferou a freira. Colocaram-nos em fila indiana, numa galeria aberta, um frio de lascar, apenas de camisola! "Só saem daqui após a responsável se acusar", esbravejavam a freira, a madre superiora e outras integrantes da Congregação. De cochicho em cochicho, acabamos descobrindo que alguém havia trancado as freiras cantantes no salão e escondido a chave. Tiveram que arrombar a porta para sair! Quando estávamos mais geladas que um iceberg, ouviu-se uma vozinha: "Eu sei quem foi". A delatora subiu no conceito da Irmandade e a sapeca foi expulsa do internato...

(CONTINUA)

Giustina
Enviado por Giustina em 13/03/2011
Reeditado em 01/03/2014
Código do texto: T2844656
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