MEMÓRIAS DE UMA INTERNA - II

Sineta tocando... Um susto! Onde estou? Uma peça enorme, camas por todo o lado, umas vinte meninas! Meu dormitório era o das "menores", pois para fazer parte do dormitório das "maiores" tinha que ter, pelo menos, quatorze anos. E eu só tinha onze! Um corre-corre sem fim... Meninas escovando os dentes, meninas em fila para o banheiro, meninas se vestindo, meninas se penteando. Café num refeitório imenso, não sem antes fazer uma oração... Aliás, oração era o que não faltava! Rezávamos antes do café, antes do almoço, antes da janta, antes da aula, antes de dormir. Sem contar as missas dominicais obrigatórias e as que fazíamos questão de ir. As freiras nem desconfiavam que só íamos para poder sair da gaiola, andar duas quadras e ver os meninos. Quantos olhares inocentes trocávamos enquanto o padre Nelson papagaiava seu latim interminável, que nada entendíamos! Mas isto foi depois... Nos dois primeiros anos de internato eu curti a minha infantilidade, iniciei amizades que duravam até a primeira briga e aí partíamos à procura de outra amiga. Que tinha de ser só nossa! A exclusividade era norma nas duplas que se formavam! Afinal a nossa amiga íntima era depositária dos nossos segredos, sabia quem era nosso amor platônico, era o ombro e os ouvidos dos nossos lamentos. Nos quatro anos de internato tive duas amigas fiéis, mas uma a cada tempo. A primeira durou dois anos e uma fofoca pôs fim a grande amizade. A segunda perdurou além dos muros do colégio e durante dez anos nos correspondemos, sem nunca termos nos visitado! Eu em Santa Maria, ela em Tupanciretã... Naqueles tempos as distâncias pareciam enormes!

(CONTINUA)

Giustina
Enviado por Giustina em 12/03/2011
Reeditado em 01/03/2014
Código do texto: T2842575
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