Editores desesperados

Para evitar abuso das operações e lições amargas vamos direto ao assunto. Temos aí fora um homem com uma cruz que não saiu do filme Pagador de Promessas. Ele quer publicar um livro. Senhores, silêncio! Sei que nada é mais natural para Editoras Reunidas do que isso. Ele não viria até nós para propor a criação de caixinhas de crédito. O Nosso Senhor deseja crédito, isso não é crime. Reflitamos nós, todavia, como ficará nos próximos anos o mundo editorial após o lançamento do livro do Papa. Quanto mais rápido e de perto houver tempo, pois está de pé e bem diante de Margarete, na sala de espera uma figura proverbial. O Messias quer publicar outra versão do livro.

Todos se calaram e ouviram pela primeira vez a voz do Messias comentando com Margarete: Desejam dinheiro, contudo jamais alcançaram altitudes divinais, altos escalões. O jeitinho é colocar todo mundo a ferros. Digo, às alturas.

Neste momento os editores morderam cada qual o seu charuto com introspecção desassossegada. Messias continuando: por outro lado fabrica-se o conforto, a paz, a calmaria. No fundo essas almas boas gastam pouco dinheiro, elas economizam. Elas não comem demais. Elas não esbanjam. Elas não gostam de Picasso. Elas não fumam nem bebem.

Margarete com seu todo executivo, dedilhava botões com seus botões, comentando, com delicadeza executiva: O Senhor merece nossa estima, mas não o nosso dinheiro. Não se iluda. Os editores não aceitarão a sua proposta literária. Gutenberg já fez sucesso com ela. Dinheiro produzido pelo suor e grandes máquinas movimentando grande quantidade de matéria prima, até alcançar o livro. Vou lhe contar um segredo – disse, observando os olhos arregalados do Messias. O nosso maior vendedor de livros está competindo com o livro do Papa. Sabia? Está vencendo! Inventou a trilha antes do Twiter, disse soberba, encerrando o palavreado feliz com seu dócil risinho prático.

Messias sentou-se cofiando a barba à Confúcio. Pelas barbas de Buda! Sim ao crédito. Sempre ele. O exame, por mais ligeiro que seja jamais cobre toda a honestidade. Haverá um dia que os mercados compreenderão a necessidade de sustentar os ordinários, os vadios, os colocados em desvantagem pelo bolso de alguém. Pelas tatuagens dos preços! Exclamou, fazendo vento com a mão. Depois vão dizer que sou eu em quem faço a confusão. Misturo desafortunado com ineptos tirando larga vantagem e bazinga! Confiança no Senhor! O critério é saber que sempre haverá falta de emprego, falta de oportunidade, falta de dinheiro e outras quejandas faltas. Ajeitou-se na cadeira estofada amarela e resmungou calidamente: isso não modifica a confiança na solvabilidade.

Na reunião os editores ainda falavam todos ao mesmo tempo, exceto um suspeito que acessava um site. O presidente continuava branco de tão indeciso até se ver forçado ao desabafo: Se o livro do Papa vender poucos exemplares no crédito puramente pessoal das alturas de sua santidade... Teve a frase quebrada como um link interrompido pelo Messias entrando sem ser convidado na sala e já exclamando: “... esquecerei qualquer comentário sobre abuso de influência”. Todos respiraram “fundos” sem as fadigas corporais da duvida para o próximo investimento editorial. O movimento dos capitais com segurança fica mais bem representado pela indivisibilidade!

Houve grande descontração e a reunião estava finda na frase epistolar do presidente: Pelo menos aqui temos um coelho na cartola. Margarete surgiu na porta acrescentando: Olha que ele também inventou a trilha antes do Twiter.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 11/03/2011
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