MEMÓRIAS DE UMA INTERNA - I
Início dos anos 60, mais precisamente 1963, ocorreu o corte do meu segundo cordão umbilical. Se o primeiro encerrou minha vida intra-uterina, o segundo separou-me pela primeira vez do convívio com minha mãe. Foi sofrido, mas eu queria estudar e na Mata, minha cidade natal, só havia o curso primário. Então, numa manhã de março, enfrentando a vontade de chorar, embarquei com meu pai para Jaguari, onde ficaria por quatro anos cursando o ginasial. Eu tinha que ser forte... Na minha inocência imaginava que, se mostrasse fraqueza e dor, meus pais não admitiriam a separação. Por isso, numa forçada pose de durona, eu sufoquei a ferida no peito e engoli as lágrimas. Entregue às freiras, eu vi meu pai indo embora e o sofrimento aumentou. Se dor emocional matasse, eu morreria naquele instante. Mas continuei firme, fingindo contentamento, com receio de que, se dissesse uma palavra sequer, botava a perder meu sonho de estudar. Até a noite... Com o emocional em frangalhos, me atritei com outra interna! Foi a gota d'água! Ao deitar, não aguentei mais e explodi numa torrente de soluços, sufocados no travesseiro.
Assim iniciava meu primeiro dia num internato frio, cheio de regras e que me rendeu uma timidez por boa parte da minha vida...
(CONTINUA)