DA APURAÇÃO DO CARNAVAL RIO 2011

É óbvio que os tempos mudam e tudo se transforma, somos seres em constante movimento ainda que ficássemos inertes para todo o sempre.

Porém hoje aqui quero falar, não tão figurativamente, dos antigos carnavais e em absoluto tenho a pretensão de desmerecer este ou aquele Carnaval, esta ou aquela escola, quaisquer resultados sob o ponto de vista do merecimento dos carnavalescos e de seus exímios trabalhos, principalmente porque o nosso Carnaval, e em especial o do Rio de Janeiro, TODO ELE, de fato é de tirar o chapéu por parte de qualquer espetáculo da cultura popular de qualquer lugar do mundo.

Porém duns tempos para cá, algo me instiga.

Num primeiro momento tive a vontade de escrever, depois pensei, sei lá, é melhor não, deve ser só mera impressão.

Todavia, depois que ouvi alguns comentários paralelos de amigos, estes ocorridos depois da apuração, inclusive no meu local de trabalho, e por parte de quem não se liga muito em Carnaval, aí sim, percebi que a impressão, ainda que possa ser só impressão, não é só minha.

O fato é que tem uma certa onda de difusão no "ar carnavalesco", sempre bem previamente aos desfiles, que parece nos levar à sensação, digamos assim, de que existe certa "casta" carnavalesca promovida pela mídia hegemônica do país.

A sensação que tenho, vejam bem, sensação de espectador comum que ama o Carnaval arte, é de que existe uma "família global" encastelada, aonde os demais "plebeus" não têm acesso, a não ser que seja do interesse dos bastidores promovê-los, este sempre muito velado e maior que a percepção do todo, isto quando os "plebeus" se superam a si e às suas tantas dificuldades a ponto de não se conseguir ocultá-los.

Fica a impressão de que tal família globalizada é insistentemente promovida pela telinha , que sempre está na frente de tudo e de todos, e não é apenas no Carnaval não, é um fenômeno percebido em todos os setores das artes, dos esportes, de assuntos vários, e principalmente da política, portanto, uma sociedade globalmente organizada.

De certa forma esta sensação frustra o cidadão comum, e principalmente quem gosta da arte, porque nos deixa a impressão de que tudo é mais ou menos "planejado, manipulado e esperado" .

Estou apenas explanando um sentimento, posso estar enganada, e tomara esteja mesmo.

Fácil exemplificar com o que ocorreu na Sapucaí do Samba, quando se comparava a distância da emoção da realidade da avenida com a emoção que nos era repassada e comentada nas telas.

Soma-se ao fato, o de que que os comentaristas globais me parecem muito leigos no que comentam, e desta vez comentaram deveras precariamente toda a arte que desfilava na avenida.

Se bem que, desta forma, até nos deixariam a legítima impressão de povo, que de fato não ocorreu, posto que é esta emoção o que mais conta na alegria do Carnaval , como manifestação da cultura popular.

Embora a escola campeã do Rio tenha feito um desfile maravilhoso, com um tema cultural ÍMPAR da nossa MPB, O MÉRITO DO MEU ENSAIO NÃO É TEMÁTICO, seria difícil acreditar que a escola não ganharia o Carnaval, depois depois de homenagear um ilustre veterano tão afilhado da telinha...em meio a tantos outros artistas também promovidos por ela e que são integrantes da escola campeã.

É o que sinto.

As notas técnicas, também tão díspares entre os jurados, para um conjunto de arte tão homogeneo, claro que nos causa uma certa inquietação, ainda que sejam por parte dos "Doutores em Carnaval"; e mesmo a escola campeã, depois de efusiva manifestação da imprensa que narrava o seu desfile, levou do povo notas bem diferentes das quais lhe garantiriam a vitória na avenida do samba.

"Claro que este placar de nota é só uma brincadeira, aonde o povo brinca de jurado", argumentava nitidamente decepcionado o Folião global, quando viu a nota dada pelo povo para a escola que logo mais seria a campeã. Estranho isso...

Enfim, fica aqui minha impressão, apenas de alguém que só entende de emoção de povo, emoção do samba no pé e emoção da avenida, aliás, as únicas legítimas emoções do Carnaval.

Há vitórias do corpo e vitórias da alma, e essas últimas penso serem as que ficam para sempre seladas nos corações carnavalescos, cabendo apenas à arte, nunca tendenciosa, melhor definí-las e coroá-las na História do folclore dum povo.

A mim, com todo o respeito, resta um ligeiro saudosismo dos antigos carnavais...