O Brasil em preto e branco

Sabe, desde pequeno que ouço essa frase: “O Brasil é o país do futuro!”, “Estamos rumo ao progresso!”, coisas assim. Mas, cá pra nós, antes que alguém me chame de arcaico ou pessimista, eu prefiro o Brasil do passado. Lógico, que levando algumas coisas do presente, como celular, internet e a tecnologia, por exemplo, que por fazerem parte do nosso cotidiano, não dá pra se imaginar sem. Todavia, assim como se defende uma tese no mestrado, defenderei agora a minha. No Brasil do passado as crianças corriam na chuva, jogavam bola na rua, se conversava na calçada. Ficávamos até altas horas e às vezes até de madrugada, quando a mãe por um deslize pegava no sono e se esquecia de chamarmos pra dormir. Hoje, quem em sã consciência deixa seu filho sair às ruas pra: brincar, conversar, ver estrelas, coisas assim? Pois sabe que estará correndo um sério risco de entrar para as estatísticas policiais de mais uma vítima de bala perdida, de assalto a mão armada, de seqüestro (que antes só quem tinha dinheiro temia por isso) e tantos outros infortúnios que me furto em comentar. No Brasil do passado, apesar de não se ter a tecnologia do século 21, as pessoas eram tratadas como gente nos hospitais públicos e não como bichos amontoados em corredores. O médico olhava nos olhos do paciente e isso além de sinal de respeito, era sinal de amor a profissão. No Brasil antigo, a gente cantava e sabia o hino nacional de cor. Hoje, não se atreva a pedir que os nossos sábios estudantes assim o façam. Será como um disparate! Um atentado ao pudor! E logo se tornarás “persona non grata” no ambiente. Afinal, nossos alunos evoluíram e sabem de cor mesmo é: “o melô da mulher maravilha” ou do “vou não, minha mulher não deixa não”. E por falar em escola, antes a figura do professor era respeitada, admirada... Ai do aluno que levantasse a voz ao mestre! Hoje em dia, o professor é: ameaçado, xingado e até assassinado como ocorreu, por exemplo, há pouco tempo em Minas. No Brasil da alegria, íamos aos estádios torcer pelos nossos times do coração, uniformizados e com a família. Hoje? Faça isso pra ver se voltas vivo pra casa. Antes pagávamos impostos, hoje somos violentamente assaltados por tanto que se paga de tributos. No Brasil de um passado nem tão distante assim, se ligava a televisão pra ver algo salutar aos nossos neurônios. Hoje nos oferecem essa maravilha cultural que é o “BBB”, com suas mentes desprovidas de massa encefálica. Tanto é que num desses episódios recentemente, Pedro Bial perguntou quem foi Napoleão Bonaparte e nenhuma estrela (sic) enclausurada respondeu. Tive até receio de um deles responder que foi um ilustre cantor de pagode nas antigas ou um jogador de futebol da segunda divisão paulista. Mas pra nossa sorte, ficaram calados. Afinal, era uma pergunta muito difícil né não? No Brasil saudoso se escutava nas rádios : Zé Ramalho, Raul Seixas, Gil, Caetano e hoje temos: bonde do tigrão, mulher melancia, Latino e Kelly Key. Antes tínhamos música, hoje temos lixo sonoro. É... Lamento pelos nossos filhos e netos. E mais ainda, começo a desconfiar que a Lei de Murphy existe mesmo, já que ela diz: “Nada está tão ruim que não possa piorar”. Afinal, temos no nosso congresso o deputado Tiririca na comissão de educação, temos o trânsito louco que se mata gente mais do que se matou na guerra do Iraque, temos os sem-terra que também são sem-lei, temos muitos funcionários públicos que só pensam exclusivamente em suas estabilidades e no salário no fim do mês (o resto que se exploda!!!), temos o tráfico arruinando nossa juventude. Mas... enfim, o que isso importa? Se somos pentacampeões do mundo! Se temos os jogadores mais ricos do planeta! Se somos o país do samba e do carnaval, não é mesmo!? Pois é, vamos vivendo e acreditando no futuro, antes que algum telespectador fanático do BBB e com o semblante revoltado comigo, me responda por email: seu Brasil em preto e branco era mais colorido? Seu Brasil do passado era mais humano? ... Mas... e daí? Adoroooooooooooo!!!

Nelson Rodrigues é compositor, poeta, radialista e graduado como tecnólogo em redes de computadores.