Minha História: Izabelle Valladares - texto multiplicando o verbo amar do livro :Destinos!

Multiplicando o verbo amar

Muitas vezes ouço as pessoas reclamarem que amar nem sempre é bom , que o nosso amor por nós mesmos deve vir em primeiro lugar, que se não nos amarmos primeiro, não nos valorizamos e isso e aquilo... Quando tive meu primeiro amor, na minha adolescência, achei que seria o único, quando brigávamos, eu quase morria, pois ouvia algumas pessoas dizerem que só temos a chance de amar uma única vez,e aquilo me deixava tensa.

Como eu poderia perder meu amor, e não ter nunca mais a chance de viver aquilo, pois que eu o amava, até mais que a mim, eu tinha certeza absoluta,então, fui mantendo-me naquela relação de dependência emocional e me conformando com migalhas, pelo simples medo de ser incapaz de amar novamente.

Quando eu estava com 17 anos, nasceu minha primeira sobrinha, e acabei transferindo pra ela mais amor que tudo em minha vida.Era como se fosse minha filha, eu seria capaz de morrer ou de matar por ela, e este amor, só aumentava com o tempo, mas não era um amor que diminuía, e sim um amor intenso que aumentava a cada dia, e um amor que me estimulava a viver, e mais uma vez , eu ouvia das pessoas, quando for mãe, isso passa, não terá tempo para sobrinhos, e mais dois anos se passaram, e lá estava eu, com minha primeira filha no ventre e novamente temerosa, será que vou deixar de amar minha sobrinha porque minha filha vai nascer¿

E esta dúvida também me perseguia.

Quando minha filha nasceu, respirei aliviada, pois conseguia amá-la independente de deixar de amar minha filha, e dizia de boca cheia, que pra mim , filha e sobrinha, não tinham diferença, era como se fossem minha extenção, e transformei este meu amor mútuo e intenso, em um laço de amizade e respeito entre nós três inquebrável, mas não podendo esquecer que há outras pessoas em minha vida, continuava achando que meu amor, pelo meu marido, era inesgotável e impossível de ser destruído e aceitava suas traições e a vida medíocre de conforto e festas que eu ganhava como recompensa .

Não pense que eu não gostava das festas, muito pelo contrário, eu amava, e amava ostentar jóias bonitas e roupas impecáveis que aliás , nunca eram repetidas.

Em uma dessas saídas , uma coisa aconteceu, e foi capaz demudar todo o meu destino, depois de arrumada com minha filha pronta, ao sair de casa, o salto de minha sandália quebrou, uma sandália nova e de muito boa qualidade, e aquele salto , inexplicávelmente, foi o responsápel por hoje eu estar aqui narrando esta história.

Juntamente com o salto, meu bom humor foi quebrado, eu xinguei, blasfemei, me irritei e briguei com meu marido,por ter rido da situação, ao ponto de desistir de sair para a festa com ele, e justamente naquela noite, ele partiu e nunca mais voltou.

O tempo passou, e todo o meu amor por ele teve que ser transformado, não por vontade ou iniciativa, mas o destino o levou precocemente, aos 36 anos e no lugar do amor, ficou só a saudade, então na fase de reconstrução emocional da minha vida, que aliás, estava apenas começando, fiquei viúva aos 21 anos, conheci pessoas, descobri paixões, achei novos amigos, e grandes amores, e percebi que a capacidade de amar, vai muito além de um simples reservatório , é algo mágico e incrível.

Quando tive minha segunda filha, cheguei a questionar este fato, achava que não poderia ser a mesma mãe que era pra uma, para a outra, e mais uma vez, aquelas velhas frases feitas invadiam minha mente e conseguiam me confundir, sempre ouvia que filhos são amados da mesma forma, mas , conseguia observar, entre amigos e familiares, diferença entre tratamentos, que muito me preocupavam, e pensava, será que vou conseguir ser uma super-mãe para estas duas¿

O tempo foi passando e fui percebendo que minha filha mais nova era idêntica fisicamente ao pai, coisa, que muitas vezes,chegava a me irritar, pois até hoje é impressionante a semelhança dos dois, mas fui percebendo que apesar de amá-la tanto quanto a outra, tínhamos mais divergências pessoais e fui descobrindo aos poucos que estes pontos eram exatamente no que éramos idênticas, descobri na personalidade dela, coisas que me remetiam a minha infância em alguns momentos me via nela, na hora dos choros sem motivo, a vergonha quando levava uma bronca, as travessuras criativas, as várias visitas ao ortopedista para engessar isso ou aquilo, e fui me identificando de tal forma com ela, que muitas das vezes, os ponto que antes eram defeitos, mostravam pra mim, que ela poderia ser uma adulta, cheia de coragem como eu sempre fui, independente e sincera, e que, apesar de “bater de frente” sempre com ela, em nenhum momento me arrependeria ou questionaria seu nascimento, e mais uma vez concluí que meu amor por ela , também era inesgotável e o verbo amar ser ia multiplicado tantas vezes quanto fosse possível.

Com os anos, percebi que em nossas vidas, podemos amar as pessoas de forma igual, sem ser necessário se fazer preferências, amar quantas vezes acharmos necessário, e mesmo que venha de forma súbita ou não planejada, colocá-la em prática, é a melhor coisa que existe.

Hoje tenho 35 anos, duas filhas maravilhosas e três sobrinhos encantadores.Minha sobrinha que já é maior de idade, vive comigo, e temos uma relação de amor, cumplicidade e respeito.

Nesta trajetória, abri mão de algumas coisas em minha vida.Comecei a ter sucesso em minha carreira e me encontrar profissionalmente, quando as duas tornaram-se mais independentes, mas, em nenhum momento queria que minha vida fosse diferente, se eu pudesse voltar no tempo e pensar em novas escolhas, teria feito as mesmas escolhas novamente, amaria intensamente da mesma forma, e acho que isso, foi a base para que fossem seres humanos tão especiais.Tivemos momentos de tristeza, tivemos momentos de decepções , tivemos momentos de mágoas, mas nosso amor, não foi abalado em tempo algum ou em espaço algum.

Amo ser mãe, me completa, me anima, quando vejo pessoas dizendo que são felizes sem ter tido filhos, eu acredito, pois quando eu não as tinha também me julgava feliz demais, e até era, mas depois que fui mãe, as cores de minha vida que eram rosa bebê, tornaram-se Pink e isso pra mim faz toda a diferença, é difícil muitas vezes, saber que precisa ser o exemplo, quando não quer isso, mas aprendi que nem sempre o que tiramos como exemplo, vide frases feitas que citei no início, se aplicam a todas as pessoas.

Não sou a socialmente correta, sou mãe,de duas filhas de pais diferentes, já casei algumas vezes, já fiz coisas erradas,já tomei decisões difíceis, bebo, danço, xingo, grito, choro, rio de chorar, mas, amo incondicionalmente e isso faz toda a diferença em minha vida.Minhas meninas (englobando a sobrinha), me respeitam e ai de quem falar mal de mim rsrsrs...

Com o tempo, amadureci minha forma de amar, isso é fato, não me desespero com joelhos ralados, não acho minhas filhas perfeitas, e aprendi a selecionar quem amo, hoje , tenho um marido maravilhoso, meu amigo, meu apoiador, minha base, meu cobertor nas noites de frio, meu refrigério nos dias de calor, nosso amor superou preconceitos, religiões, tabus para ser livre, e é esta liberdade que nos prende, filhos juntos, ainda não temos, não é algo que podemos afirmar estar em nossos planos, mas também não descartamos a idéia, estamos simplesmente hoje, nos amando intensamente, e observando que nossos pequenos ou grandes defeitos, não são nada enquanto em troca, podemos ter o prazer da companhia um do outro e ficarmos juntos diariamente, não vou mentir que em nosso casamento não há rotina, mas , muito pelo contrário, é nossa rotina que faz nossa vida melhor, é podermos dizer incontáveis vezes um ao outro o quanto nos amamos, e o quanto somos felizes juntos, e estamos preparados para multiplicar o verbo amar em nossas vidas quantas vezes forem necessárias, seja para nossos familiares, seja para nossos amigos , seja para nossos filhos, e sobrinhos, pelas pessoas que passaram em nossas vidas mas se fizeram presentes em nossa caminhada, nosso amor não é divisível, não é mais para a pessoa “X” ou mais para a pessoa “Y” ,ele simplesmente é multiplicável.

Amo ser tia 3 vezes em minha vida, ser mãe duas, ser filha uma vez , e me sentir a mulher mais amada do mundo, todas as vezes que durmo nos braços do homem que eu escolhi como amor. Simplesmente multiplicando o verbo “Amar”.

Izabelle Valladares Mattos
Enviado por Izabelle Valladares Mattos em 10/03/2011
Código do texto: T2840400
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