1985, o Ano

Neste último sábado eu e minha esposa fomos convidados, por alguns amigos, para uma festa paroquiana que ia acontecer à noite, na igreja de um determinado bairro de nossa cidade. Uma combinação de festa junina ( já em agosto) com a velha e tradicional quermesse. Confesso que não sou muito dado a este tipo de festejo, apesar de compreender que é a mais completa festa familiar comunitária, por apresentar ingredientes que agrada desde adolescentes (estes se agradam em qualquer festa) até a terceira idade. Meu primeiro impulso foi de recusar a comparecer nesta festa, mas um detalhe me compeliu a aceitar o passeio: eu já havia morado naquele bairro, há mais de vinte anos. Então, ali estava a oportunidade de rever velhos conhecidos que deixara por lá.

E isto aconteceu exatamente como imaginava. Já no portão de entrada do átrio, abarrotado de gente, os rostos conhecidos começaram a aparecer. Andando por entre as mesas e cadeiras, a procura de acomodação, não dava dois passos sem um aceno aqui, um aperto de mão ali, um abraço acolá, beijinhos, sorrisos.

Fazia muito tempo que eu realmente não via algumas pessoas que encontrei ali. Pessoas com as quais eu compartilhei um pedaço da minha história. E, depois de tanto tempo, olhando para suas silhuetas tão próximas, e no mesmo local em que vivemos e compartilhamos um pequeno naco de tempo, me suscitava emoções variadas. Determinadas figuras me eram agradáveis, algumas indiferentes, outras me traziam a mente recordações negativas.

Eu, verdadeiramente voltei no tempo, enquanto contemplava tantas coisas que me foram familiares um dia. Me veio a mente a noite em que conquistei de vez o coração da mulher que hoje é minha esposa. Foi ali, no mesmo local, uma festa muito parecida, numa noite de sábado, algumas daquelas pessoas presentes, inclusive até a pessoa que me ajudou a entregar um bilhete que foi o começo de tudo.

Isso ocorreu no distante ano de 1985, que foi um ano de muitas mudanças na minha vida. Muitas coisas novas aconteceram em avalanches na minha trajetória. Apesar de já estar com 22 anos de idade, foi naquele ano que eu realmente me senti emancipado para encarar a vida. Conheci a pessoa maravilhosa que hoje é a mãe dos meus filhos, fui aprovado em um concurso público e arrumei meu primeiro emprego verdadeiramente decente. E muitas outras coisas boas ocorreram naquele ano que me fizeram guinar para um norte seguro na vida.

Lembrei de uma crônica que li outro dia, do Paulo Briguet (www.scalassara.com.br/carta.asp?pag=6&id=237), onde ele dizia não acreditar na existência do ano de 1985; que aqueles doze meses fora uma ilusão, um lapso, um ato falho. Dizia ainda que nem mesmo acreditava no nascimento de alguém naquele ano.

Meu velho e bom cronista, Briguet. Sou teu leitor assíduo, admirador das tuas crônicas, nas quais me inspiro para, amadoramente, escrever as minhas. Porém não poderei concordar contigo sobre as visões e recordações do citado ano. 1985 existiu sim, meu caro. Eu seria capaz de escrever um texto retratando acontecimentos de todos os dias daquele ano, tamanho foi a significância, para mim, aqueles doze meses. Tamanho foi a avalanche de fatos novos, que me fazia novo em cada amanhecer.

1985 foi o ano da guinada em minha vida, da libertação. Como a história do país, que saía de uma ditadura, eu me libertava da ignorância, de uma maneira errada e estúpida de viver, de um servilismo idiota que era como um tapa olho para os acontecimentos da vida.

1985 Foi O Ano!

Roberto Santos
Enviado por Roberto Santos em 10/03/2011
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