Somos livres?

A minha pergunta hoje é, sem rodeios, qual ser humano é capaz da liberdade total? Caros leitores, convido-os para que façam o exercício da reflexão silenciosa. Aliás, talvez um dia fale sobre o silêncio e como ele faz falta hoje, época muito barulhenta. Mas isso, como disse, é assunto para outro dia. Retomando a reflexão: você se sente livre? Todas suas posturas e ações diárias são postadas por sua liberdade de agir? Alguns, dirão: sim, sou livre. Concordo parcialmente. Acho que todo ser humano está em regime semi-aberto. Vejamos o que o direito penal brasileiro diz sobre o regime semi-aberto:

“Diz-se da execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.” *

Meus caros leitores, se a casa do condenado não fosse a “cadeia”, haveria alguma diferença? A volta para cadeia implica:

1º) volta sempre para um mesmo lugar. (Algum de nós é livre para dormir em qualquer lugar diferente, todos os dias?)

2º) um regime interno dentro da casa. (ninguém, mesmo que more sozinho, não se organiza por horários e obrigações para com os seus vizinhos?).

Você não trabalha, caro leitor? Talvez alguns pouquíssimos privilegiados não trabalhem, no entanto não estão livres de outros jugos. Como estes últimos indivíduos são raros, não entrarei mais em detalhes.

Mas, ainda sobre o trabalho, diga-me: sente-se livre sabendo que qualquer atraso, palavra mal falada, atos, ações ou omissões podem lhe causar a morte? Ora, está louco, Luiz? A morte? Sim... Se você, meu caro, é mandado embora, o que lhe retiram: a liberdade? Ora, estamos vendo não ser bem a questão, já que afirmamos não sermos tão livres assim! Então o que retiram? Retiram o sustento, de maneira indireta! Neste ponto talvez os condenados nas prisões brasileiras tenham lá suas vantagens: não deixarão de comer nunca.

No entanto, a mais cruel pergunta, aliás, crudelíssima é: somos seres aptos a sermos livres? O homem é livre ou “daria conta” de ser livre? Na tradição judaico-cristã há dois conceitos que levaram teóricos, através dos séculos, “quebrem a cabeça”. Livre-arbítrio e onisciência de Deus. Ora, livre-arbítrio implica que todos nós podemos agir mal ou bem, que no fundo depende apenas de nós a escolha. Já a onisciência de Deus é a capacidade Dele de conhecer a tudo do passado, do presente e do futuro. Todos nós sabemos que, por essa mesma tradição, se o mal é praticado, o pecado, isto nos acarretará uma pena. Mas, se Deus tudo sabe e condenará os que pecam e ele já sabe que nós pecaríamos antes de nós pecarmos, ou seja, se já estamos condenados ou não, como fica nosso livre-arbítrio? Será que o temos?

Talvez essa seja a grande “sacada”. E os antigos já o perceberam faz tempo: temos a ilusão do livre-arbítrio, no sentido de que, escolhemos sim o que fazemos, mas estas escolhas de certas formas estão previstas dentro de uma gama possível de escolhas escolhidas para nós.

*http://www.jusbrasil.com.br/topicos/289086/regime-semi-aberto

Laanardi
Enviado por Laanardi em 10/03/2011
Reeditado em 12/03/2011
Código do texto: T2838666
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.