AS FANTÁSTICAS VIAGENS
(Projeto Minhas Histórias)
Lá pelos idos de 1958, eram raros os automóveis em pequenas cidades e lugarejos. Em minha pequena Macondo então, não tinha um sequer. Quando ouvíamos o ronco de um motor, era uma festa e a curiosidade logo contagiava a todos. Quem será? De vez em quando, víamos passar um JEEP, dos proprietários de uma fazenda próxima. Em outras ocasiões era o “viajante”, como era conhecido o vendedor que visitava clientes em suas lojas e agendava pedidos de peças de tecidos. Assim era feito a abastecimento do comércio. Dias depois da visita do viajante a mercadoria chegava à Estação Ferroviária mais próxima, acondicionada em fardos e de lá papai a retirava e transportava para casa em burros ou em carros-de-bois, conforme a necessidade. As mercadorias do armazém também chegavam do mesmo modo, salvo quando a compra era maior e valia a pena pagar um frete de caminhão.
E as viagens? Como era maravilhoso viajar! Eu nem dormia de tanta ansiedade. Quando era em carro-de-boi, antes das quatro da manhã estávamos de pé, às voltas com a arrumação. Um carro -de -boi que se prezava possuía no mínimo, oito bois, ou como lá diziam, quatro juntas. Os bois atendiam por nomes engraçados e peculiares. O eixo do carro era apertado e lubrificado com banha de porco ou azeite, para fazer o carro cantar, isso era uma das coisas que encantava naquele transporte. O carreiro que o conduzia era sempre uma pessoa competente e tinha uma grande responsabilidade e muita arte. Para incitar os bois a seguir em frente entoava uma cantiga típica e por vezes, melancólica. O guia ou candeeiro (assim chamado em algumas regiões) seguia na frente, mostrando a direção.
O carro era encostado próximo à porta de casa. Eram colocadas arcos em madeira fina e maleável para sustentação da cobertura, que por sua vez era uma lona grossa que nos protegeria das intempéries. Lá dentro eram acomodadas as bagagens, e no espaço maior um colchão, travesseiros e cobertores, onde nos enroscávamos e dormíamos até que o dia esquentasse um pouco para desfrutarmos da paisagem maravilhosa. Humm!... Aquele cheirinho de mato!...O cantar das rodas do carro e a toada do “carreiro”, eram tudo de bom que precisávamos em uma viagem. Papai nos acompanhava montando o cavalo Ruzilho ou o Prevenido e estava sempre atento a qualquer imprevisto. Por volta das dez horas, parávamos um pouco para fazer um lanche, caminhar um pouco e tomar um pouco de sol (nesse tempo não fazia mal). Ao meio dia, a previsão era parar perto de um riacho de água límpida e transparente onde almoçávamos aquela farofinha deliciosa com frango assado. E a viagem continuava. No percurso, papai ia colhendo para nós uma diversidade de frutas silvestres como marmelo, araticum, araçá, jabuticaba, entre outras.
Lá por volta das seis da tarde, chegávamos a Lagoa Redonda onde embarcaríamos no “trem”. Tínhamos duas opções: O MOCHILA, lento demais e o RÁPIDO, bastante veloz, o que fazia jus ao seu nome.
Mas esse será outro capítulo dessa saudosa lembrança!
Fátima Almeida
Nota:
Tentei acrescentar aqui uma pesquisa mais detalhada sobre o carro-de-boi, mas alguma
coisa não funcionou . Não consegui. Desculpem.