Um pouco 
         sobre Jesus de Nazaré



     Um pouco sobre Jesus de Nazaré.
     Tirei de um livro que andei re-lendo quando me preparava para a Quaresma, que hoje se inicia, com o fim do carnaval e a imposição das cinzas.
     Um pouco, claro, sobre a figura humana de Jesus. Portanto, sobre o Jesus histórico.
     Nada, pois, sobre o Jesus, o filho do Divino Pai Eterno, sobre o qual me declaro, desde já, incapaz de escrever e opinar.
     Sobre Jesus, o filho de Deus, costumo dizer que é aceitá-lo sem perguntar por quê, ou deixá-lo para sempre.
     Se quiser saber muito sobre ele, pira de vez.
     "Jesus, esse grande
desconhecido" não é um livro religioso; e, ao que me parece, pouco divulgado. Não o tenho visto nas livrarias que ando visitando com frequência e nem nos sebos da cidade.
     É, porém, um livro muito interessante e curioso. Às suas páginas volto, sempre que ouso abordar um tema que diga respeito à passagem do homem Jesus pela Terra, há três mil anos.
     Diria que ele é uma grande reportagem em dezessete capítulos.
     Em um desses capítulos, seu autor, o jornalista espanhol Juan Arias, faz esta pergunta: "Jesus de Nazaré realmente existiu ou é apenas um mito?"
     E, a partir dessa audaciosa indagação, Arias escreve mais de uma dezena de páginas que levam o leitor inevitavelmente a uma complicada encruzilhada.
     Consequência da fragilidade que ainda ronda minha fé?      O certo é que, quando mergulho em profunda e sincera meditação, não uma, mas, várias vezes, me faço esta cruel pergunta: ele existiu mesmo?  Quem é este Jesus que ao longo de três milênios é fervorosamente cultuado e adorado, apesar de não ter deixado nada que comprove, de maneira inconteste, sua passagem por este planeta?
     Com efeito, tudo o que se sabe sobre o homem Jesus baseia-se em relatos de pessoas que, a rigor, não se pode garantir, com rigorosa margem de segurança, tenham tido com ele uma convivência diária; ou testemunhado, pessoalmente, o que se diz que ele fez, nas suas andanças pela Palestina.
     Seus principais biógrafos, segundo consta, seriam os evangelistas Mateus, Marcus, Lucas e João.
     Não esquecer, porém, que o Evangelho mais antigo, o Evangelho de Marcus, somente foi escrito por volta do ano 70 d.C., ou seja, 70 anos depois da morte do Nazareno.
     Além dos evangelistas, o apóstolo Paulo também teria deixado alguns escritos que podem assegurar que Jesus, de fato, existiu.
     E um historiador, do século I, o judeu Flávio Josef também teria se referido ao filho da Virgem. Assim: "Por essa época (durante o governo de Pôncio Pilatos, de 26 a 36 d.C. - frisa Arias) viveu Jesus, um homem sábio, se é que ele pode ser chamado de homem, dados os portentos que realizou. Mestre de homens que aceitam a verdade com prazer, atraiu muitos judeus e muitos de origem grega. Era o Messias."
     Verdade que, para escrever a biografia de uma figura ímpar, de destaque - como fora Jesus -, não se faz necessário que o biógrafo tenha convivido dia e noite, noite e dias, com o seu biografado.
     No caso dos Evangelhos, a coisa pega.
     Contar a história do Rabino, 70 anos ou mais após sua morte, sem que ele tenha deixado nada, vale repetir, nada comprovando sua passagem por este mundo, só um crente dono de uma fé irremovível e irretocável será capaz de aceitar, sem opor qualquer tipo de questionamento. 
     Sem melhores argumentos, a Igreja, para dar definitiva credibilidade ao Novo Testamento, socorre-se da generosa ajuda do Divino Espírito Santo que teria, no momento certo, descido sobre os evangelistas, inspirando-os quando da elaboração dos Livros Sagrados.
     Juan Arias, embora admita que "hoje ninguém duvida que Jesus existiu e foi crucificado como rebelde", adverte: "As provas históricas da existência de Jesus de Nazaré em fontes com alguma credibilidade científica fora do âmbito religioso-crîstão são, sem dúvida, inexistentes."
     E numa síntese perfeita dá a posição da Igreja com relação à existência real do Mestre: "A Igreja costuma dizer que para ela o que importa não são as provas científicas da historicidade de Jesus, e sim a fé nele. E que, mais do que no Jesus histórico, ela está interessada no Jesus da fé".
     Claro que a posição da Igreja deve ser respeitada.
     E outros questionamentos o livro de Juan Arias levanta, tais como, a data e o local exatos do nascimento do Messias: foi em Belém? Foi em Nazaré? O Natal é mesmo no dia 25 de dezembro? Jesus era casado? Como era Jesus fisicamente? Era alto? Era baixo? Era feio? Era bonito? 
     Seja lá como for, biografias de Jesus existem escritas por escritores laicos de grande valor. Cito Ernest Renan, Giovanni Papipini e Plínio Salgado, que conheço mais de perto.
     Talvez não seja este o ou um tema a ser ferido, exatamente quando a Igreja, em tempos de Quaresma, esforça-se  e se articula para reafirmar a figura de Jesus, através de sua paixão, morte e ressurreição. 
     Mas, independente de época, um debate sadio e respeitoso sobre o Jesus histórico ajuda a consolidar a fé que se deve ter no Jesus divino.
     Perdão, mas vou continuar interessado na busca do Jesus histórico. Não é pecado.
     A Igreja - e agora a pergunta é minha - por que nunca me deu um Jesus sorrindo?
     Lembra Deonisio da Silva, na sua crônica "Judas: a vez dos traidores", ótima por sinal, que somente se tem notícia de uma Jesus ridente, risonho, "num Evangelho apócrifo", ou mais precisamente, diz ele, no Evangelho de Judas Iscariotes.
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/03/2011
Reeditado em 10/12/2020
Código do texto: T2836831
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