DATAS (em caráter especial, ofereço todo o meu trabalho à comemoração da figura feminina e a todas as colegas do RL)
Para ser fiel a mim mesma, tenho que confessar: a verdade é que não aprecio o calendário comemorativo de datas representativas disto ou daquilo. Conversando com uma amiga e colega de profissão, ouvi dela uma frase da qual gostei muito. Disse: “Eu sou capaz de esquecer até do meu próprio aniversário”. Idem. Cumpre informar que essa “esquecida” é bem jovem e saudável, portanto, não se trata de disfunções da memória. E, no meu caso, em qualquer idade achei cansativo ter que prestar atenção às datas. Para meu castigo, quando era ginasiana, decorar um mar de datas da história do Brasil e de qualquer outro país era lei.
Parece-me que dizer ser hoje ou amanhã o Dia Internacional da Mulher, significa dizer que só este dia e os outros mais de 300 não. Todo dia é dia da mulher, do homem, da mãe, do pai, do filho, de tudo e de todos. Todo santo dia é dia de aniversário, pois nascemos a cada minuto. E tem mais o nascimento para outra vida, conforme muitos garantem. Eu só vou garantir quando lá estiver. Tomara!
Antes que se danem comigo, digo logo que, não quero brincar no Bloco do Eu Sozinho. Se estamos em uma sociedade e se esta privilegia datas, independentemente dos motivos supostos ou prováveis, não serei eu a começar a briga. Entrarei na folia e brincarei alegre e sinceramente.
É válida de alguma maneira a intenção em priorizar datas, o pior que acho é comemorar por obrigação. E se me der vontade de comemorar fora do dia marcado? E se eu entender que farei hoje uma festa de aniversário? De qualquer coisa? Ah, sei, serei uma nota dissonante. Tá, mas se me dá prazer dançar ou cantar fora do ritmo, ah, isto faço e farei. Digo agora feliz natal, mesmo sabendo que é carnaval. Algumas vezes faço isto e me perguntam se estou ficando doida. Resposta: não, é apenas um treinamento.
Tá, então tá. Parabéns para todas as mulheres do mundo, inclusive parabéns para mim, por esta data festiva. Possam todos refletir sobre a contribuição da mulher ao longo da história do mundo. Possam todos refazer seus conceitos e reconhecer a luta, o sofrimento, as conquistas, as humilhações, os apedrejamentos, as torturas. Possam todos lembrar que há um país neste mundo que corta as mulheres, decepa-lhes o clitóris, pois tem certeza de que a mulher é indigna de sentir o prazer sexual, apesar de ser merecedora de proporcioná-lo. E o faz com tanto carinho e abandono, ignorando quantos, depois disto, saem pelas ruas difamando as mulheres que os amaram. Possam todos refletir sobre os motivos pelos quais há madalenas e também mulheres que vivem à margem de qualquer critério de dignidade e de moral. Possam todos se perguntar por que homens há que as espancam e matam. Pode ser que um dia cada homem veja o rosto de sua (dele) mãe quando ousar levantar a mão para violentar uma mulher, seja ela quem for. Já disseram que Deus conta as lágrimas das mulheres e que não perdoará quem as fez verter. Que assim seja.
Claro que sei, há mulheres monstros, capazes de torpezas como a de jogar um filho recém nascido em um córrego. Isto ultrapassa a minha compreensão e a Deus é que clamo por justiça em casos com tais requintes de brutalidade que não são comuns em animais irracionais, em feras.