PETISCO ALADO
Uma formiga com asas pousou bem perto do lugar onde eu estava. A simples presença daquela figura me levou ao passado. Lembrei de um tempo distante onde não havia sofrido influência da ‘modernidade’, da influência de gente normal que não colocava ‘porcaria’ na boca. Após chuvas rápidas, trovões e dias ensolarados, as criaturas aladas surgiam aos montões. A criançada passava rapidamente a informação do surgimento das nuvens voadoras, e sem que houvesse fio ou aparelho eletrônico a mensagem rapidamente se espalhava. Resultado: centenas de crianças apareciam. Tinha criançola de todos os tamanhos, de uma perna só. Até algumas com os preciosos de fora se engalfinhavam a procura dos prêmios.
Época das tanajuras. Sacola, bolso da roupa, lata de leite ou de soja, qualquer coisa servia de recipiente para tão apetitoso prato. E o cheiro? Nunca senti outro igual àquele. Depois que eu e minhas irmãs pegávamos o que conseguíamos (Cada formiga tinha seus dentões e asas arrancados). Voltávamos para casa quando estava anoitecendo, com as sacolas cheias, um zumbido estranho parecendo um choro de quem sabia que estava com os minutos contados. Minha irmã mais velha nos aguardava com a frigideira pronta, manteiga derretida e as formigas eram jogadas para serem fritas. Ficavam crocantes e deliciosas.
Comíamos com pão ou com farinha de mandioca. Até os mais velhos provavam do petisco. O cheiro se espalhava. A festa estava pronta.
Hoje, relembrando aqueles momentos sinto que o estômago rejeita o cardápio e já não consigo me imaginar colocando tal petisco na boca. Que época aquela! É nessas horas que me vem uma vontade tamanha de voltar a ser criança. Saudade de um tempo que ficou para trás.