Fantasia ou Cinzas?

É terça-feira gorda.

Abro minha caixa de correspondências virtuais e aprecio uma apresentação em “slides”, cujo texto é dito como de autoria de Arnaldo Jabor.

Coloco nesses termos, pois já assisti entrevista do renomado cronista mineiro Veríssimo, contando, que recebera parabéns por crônica arrastada pelas “águas internéticas” e que não a havia escrito.

Entretanto, lhes asseguro, que a crônica intitulada “Pois é” tem a marca Jabor: eloqüência; beleza; criatividade; e lógica persuasiva.

O objeto da crônica era registrar estalo, que lhe ocorrera, ao observar o comportamento do público gaúcho, em palestra que dera num evento do Sindirádio em Porto Alegre.

Em sua crônica, afirmava da necessidade do Brasil passar por uma transição: “do ressentimento passivo à participação ativa”.

O diagnóstico fora resultado de sua observação ao comportamento passivo do brasileiro e o estalo ocorrera pela surpresa ao observar o espírito nacionalista, regionalista e comunitário dos gaúchos, ao abrirem o evento entoando os hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul, bem como socializarem a única bomba com chimarrão, existente no recinto .

O estalo consistia de aquela experiência ter-lhe respondido: de onde partiria a mobilização para a mudança de comportamento do brasileiro: “do ressentimento passivo à participação ativa”.

Pergunta Jabor em sua crônica e ele mesmo responde: “De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche, que tomaram conta do Brasil”?

“De São Paulo é que não será”.

“Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção”.

“Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão, em suas raízes, a indignação que não se encontra mais em São Paulo”.

Concordo de forma ampla, geral e irrestrita, que precisamos sair de nosso atual comportamento, “ressentimento passivo, à participação ativa”. Entretanto, sem a cautela e humildade comum aos pretensiosos, resolvi escrever uma espécie de comentário, ou de resposta à crônica recebida por correio eletrônico.

Apesar de dever à capital paulista minha profissionalização, minhas melhores oportunidades de emprego, a constituição da família, não fui movido pela crítica específica aos paulistas. Mas, sim, por entender, que essa transição não terá início com os gaúchos.

Não são só os paulistas, que estão sofrendo de "apatia social", somos todos nós brasileiros.

Os gaúchos têm essa força das tradições regionais, mas estão e continuarão apáticos, como todos nós.

Essa apatia nacional deve-se ao fato: quem mobilizava as classes sociais, para reagir aos desmandos (se bem que hoje reconheço:o fazia por interesse partidário e pela conquista do poder), hoje está no poder, hoje nos governa. Além disso, existem grandes preocupações "midiáticas" de incentivar essa apatia, de promover a alienação. O domínio alimenta-se desse comportamento.

A oposição de hoje, mesmo que, também, com interesses partidários e de lutar para reconquistar o poder, não tem o cacoete de lutar, por meio da mobilização social.

A grande mobilização atual é a virtual, por meio da INTERNET.

Posso garantir ao ilustre cronista, cineasta dos melhores, inteligência rara, que se houver alguma mobilização social, no presente, será em São Paulo, movida pelos mesmos interesses partidários e pela luta pelo poder.

Afirmo, baseado no fato de ser oposição na capital paulista,aqueles que têm história e "know how", para mobilizar as classes sociais.

A transição, além de alterar o comportamento de “ressentimento passivo à participação ativa”, terá que alterar a motivação dessa participação. Novo ideário, gerado por novo estado de consciência substituirá o velho comportamento: interesses pessoais, partidários e luta pelo poder.

Minha esperança está na geração de nossos netos, reconhecidos como "crianças índigos", ou "crianças cristais", ou seja portadores da semente de onde florescerá o novo estado de consciência.

Creio, que nosso netos conseguirão construir classes sociais independentes dos velhos ideários partidários e com a função de participação ativa na vida política, contrapondo-se as suas mazelas mais do que conhecidas.

Creio que conseguirão responsabilizar-se, por tornarem-se uma turma de "anormais", que invadirão e liderarão todos os segmentos sociais, para transformarem essa política minúscula, numa política com "P" maiúsculo e maiúscula.

No raiar desses tempos, todas as reuniões sociais iniciarão com o Hino Nacional, Hino do Estado, Hino do Município e serão encerradas com citações dos mentores das grandes lutas sem violência: Dom Helder Câmara; Mahatma Gandhi; Martin Luther King; Nelson Mandela; Jean-Marie Muller, e de muitas dessas crianças, então líderes e filósofos da não-violência.

Peço desculpas aos excessos do comentário, mas foram muito mais inspirados na fantasia de um futuro melhor, mais digno, mais ético, com a prática desses valores, do que nas cinzas da nossa atual realidade.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 08/03/2011
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