O SUICÍDIO E OS ESCRITORES DA INTERNET.

Recebo esse email da simpática e generosa Jacqueline K :“Querido Celso, como vai?

Respeito tua competência, seriedade e formação que deixas transparecer em tudo o que produzes. Por isso, estou te enviando a sugestão que deixei no meu próprio texto sobre o suicído, a qual, espero, mereça alguns minutos do teu tempo sopesando a questão.”

Consistiu a sugestão em: “Não gostarias de escrever um artigo sobre o assunto? SOBRE O SUICÍDIO, A NET E OS NOVOS ESCRITORES.”

Adita generosidades que recebo com humildade, verbis: “Gostaria muitíssimo de ver o artigo escrito por alguém como você, de formação privilegiada..”

E continua abrindo seu coração: “Tenho alguns admiradores dentre os meus contatos recantistas e de MSN que se identificam com algo de mórbido no que escrevo, e, desta forma, tive acesso aos seus pensamentos suicidas e sua relação com a vida virtual.”

Não estou dando publicidade ao que já não é público, conheço minhas responsabilidades e o direito constitucional à intimidade, pois a estimada Jacqueline já deu à lume em seu comentário que : “, escrevi esta constatação baseada em experiência pessoal, por isso, Celso, a condicionante. Referia-me aos que conheço "pessoalmente" e admiro (por isso o advérbio) que demonstram esta tendência.”

Não posso me esquivar à convocação, dou minha breve contribuição como daria um parecer sobre o que percebo, sem “achismos” ou concisões das quais “gosta” a internet, em suma apertada, que sacrifique o mínimo que se possa esclarecer. Faço-o, precípuamente, a pedido da responsável Jacquekine K, e com esta dirigência.

Jacqueline, a fuga da luta pela vida ( suicídio) vem da própria luta sem sucesso. A disputa em que se imiscuiu o homem desde que precisou sobreviver trouxe no curso da história os vários estados patológicos. Não vamos nos perder por existir um objeto, o momento atual e a internet.

Todos somos fronteiriços, há os que nascem com acentuada marca, com o pé na “fronteira”. Muitos que dela se aproximam não resistem ao seu domínio. Ocorre a superação da sanidade, rompe-se o tênue fio do equilíbrio. Atualmente, o que ontem foi psicose maníaco-depressiva hoje tem o nome de bipolaridade, doença depressiva que ganha enorme universo de comprometidos. Cada um tem sua mania, e na fase aguda extrapola em suas vontades sonhadas, para após cair na depressão abissal e nela mergulhar. Vi ontem um comentário onde a pessoa se diz desanimada para qualquer coisa e em depressão, textualmente. Muitos não são diagnosticados, há graus de intensidade, mas é visível a bipolaridade, conheço alguns, até mesmo pessoas muito próximas. Mania de grandeza é a mais comum, justamente pela “necessidade de aparecer”, ser festejado, que acompanha pela vida essa egolatria, mas existem ainda muitas outras, só para citar mais uma, a de perseguição.

A de grandeza tem um gênero e várias espécies, grandeza em dinheiro, pretender ser rico, ter beleza incomum, em ser destacado em conhecimento ou como um artista dessa ou daquela arte, ainda como um profissional de área relevante e tantas outras manias de grandeza. E o homem quer ser grandioso, é o núcleo central da natureza pelo dote da inteligência, que o distingue dos irracionais, por isso quer ser celebrizado, reconhecido, reverenciado. Basta olhar o que ele mais persegue; a fama.

Abre-se aqui a porta da internet, nosso objeto, um fantástico veículo da comunicação, inimaginável ferramenta para todas as atividades em geral, mas, também - nesse ângulo mora nosso tema - , meio para tornar conhecido aquele que se pensa grande na arte de escrever nesse ou naquele estilo literário, conto, poesia, romance, etc.

Não conquistado o destaque, o sucesso pretendido – o mais provável – surge o estado depressivo onde seus próprios arroubos literários identificam personagens suicidas. Já li contos assim e sei do que estou falando, como você sabia o que estava na entrelinha, digamos, mais que entrelinha, escancaradamente, a vontade suicida. Aprendi com meu pai e verifiquei várias vezes a verdade de que uma pessoa conta um fato de terceiro para pedir uma orientação – consulta profissional – mas o fato se refere a ela mesmo. Já aconteceu comigo várias vezes, a pessoa conta dessa forma e no final se entrega; isso acontece comigo.

Remeto o exemplo aos contos, etc, o personagem é o autor....

Estamos colocando o tema balizado e objetivo, pois se formos dar um passeio sobre ele na história, no momento podemos ir ao Japão, onde a disputa dos jovens leva maximamente ao suicídio, pelo sucesso alcançado(exaustão no estudo) ou não na educação, o que serve de parâmetro.

A massificação da disputa, cada vez mais agigantada leva a esse estado. Não devemos afastar, contudo, os depressivos originários, com todas suas manias e mitos, principalmente a mitomania, a mentira dos que se sentem irrealizados na vida, sempre, em profunda e permanente depressão, necessitando tratamento sem procurá-lo, tornando-se dependentes de drogas e encerrados em claustros.

A internet abriga essas personalidades que se engalanam de títulos e atividades que nunca tiveram ou exerceram, salta aos olhos, conheço alguns, uma procissão que aprofunda cada vez mais esse caminho do abismo. São os que nunca foram e perseguem o que nunca serão.Vivem na irrealidade, não enxergam a vida sob o prisma do equilíbrio, são desequilibrados. A depressão é sua vida, a irrealidade no biombo da internet sua mentira. Os etiologicamente doentes habitam em profusão a internet.

Mas em digressão histórica encontramos vários depressivos em todas as artes, sempre em busca de destaque e celebrização, alguns conseguiram. A morbidez como prática invadiu a poesia brasileira, fato público e notório. As escolas poéticas se envolveram com o lento suicídio pela tuberculose, era quase um “Oscar” morrer tuberculoso.

A única obra de Augusto dos Anjos, parnasiano, “Eu”, reúne sua depressão fortíssima. Augusto dos Anjos tinha obsessão pela morte simultânea e posição contrafeita também.

Isso é depressão que leva ao suicídio. A história está repleta de casos que tais, mas sem dúvida nenhuma, a internet possibilita ver com mais rapidez o desfecho da irrealização como artista, o que se pretende que ocorra com rapidez, levando a manifestações depressivas onde desponta a hipótese do suicídio. A mola de tudo, o motor deflagrado é a busca da celebrização, da fama, inocorrente.

É no que creio Jacqueline, e se vê incidente nessas psicopatias onde a depressão é a justificação.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 08/03/2011
Reeditado em 23/04/2011
Código do texto: T2835878
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.