PEDACINHOS DE MIM

Eu era por inteira. Viva. De corpo e alma. Eu andava, eu sorria. Meus olhos fechavam e se abriam. E eu bailava, rodopiava nos salões. Eu andava olhando para o céu e parava para sentir o vento. Eu gostava do sol. Amava a chuva. Eu era forte. Assim, bem forte, muito forte. Nada me abalava nada eu temia.

Mas, tem um dia na vida da gente que a gente faz tudo certo e nada dá certo. Que a casa que moramos desaba, que perdemos o trem, que chove mais do que devia que o sol aquece como nunca. A gente não sabe nem mais quem a gente é.

Hoje sou pedacinho de mim. Pareço um quebra-cabeça espalhado pelo chão. E eu tento recompor os meus pedaços. Pedaços de alegria, pedaços de saudades, pedaços de amizade, pedaços de recordações, pedaços, pedaços, pedaços e mais pedaços. Muitos pedaços. Quando encontro peças que combinam falta a cola. Quando encontro a cola, os pedaços já não se encaixam mais. E chega o vento. Espalha tudo. Desarruma.

Depois da tempestade vem a bonança e quem ama supera e quem ama vence. Hoje colei dois pedacinhos de mim, amanhã cola quatro, depois oito. Qualquer dia estarei por inteira, celebrando a vida. Dançando alegremente em círculos como as bailarinas das caixinhas musicais.

Qualquer dia estarei inteirinha cantando que nem um sábia. Brindando a vida. Qualquer dia abrirei meus braços, bem abertos como o do Cristo Redentor e gritarei bem alto para o mundo inteiro ouvir:

Olha eu inteira, de corpo e alma, feliz porque a vida é bela.

EU AMO VIVER!

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 07/03/2011
Reeditado em 20/04/2020
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