Neurose

Neurose

Muitas vezes, quis seguir caminhos diferentes, quis eu escrever a minha história sem que ninguém palpitasse. Nunca fiz distinção do sim e do não e, usei, penso, na hora que deveria dizer. Se estava certo, jamais saberei. Amigos, fiz vários pelos caminhos, sobraram poucos, ou melhor, quase nenhum. Agora vá saber se eram amigos ou apenas caminhantes, como eu, pela vida?

Não sei em que momento eu comecei a desenhar meu futuro, se foi quando aprendi o que era a vida ou quando a vida inteira se expandiu dentro de mim. E se eu nunca tivesse escrito um verso sequer, se nunca pegasse em uma caneta para escrever poesias; será que eu estaria, hoje, em pé com minhas divagações? O tempo não volta, sua linha é sempre para a frente, mas as perguntas não param. Se eu dormisse cedo, como todos, evitaria, certamente, o mau humor e as olheiras, mas, e a vida que pulsa em mim nessa hora, em que parte do dia ela iria gritar? Se eu tivesse usado uniforme , batido ponto e seguisse normas, regras, onde estaria agora?

Paro muitas vezes para pensar, porque existo, se existo, tenho que me arguir sempre. Se eu mudasse em determinado tempo a direção da minha vida e a guiasse por outros caminhos, em que atalhos eu me encontraria hoje? Se eu tivesse negado tudo que me foi dado, será que eu seria um pedinte de palavras? Ou, quem sabe, me transformaria em um funcionário do alto escalão, com diploma na parede, muito dinheiro no banco, uma mulher bonita pra exibir e a frustração de não conhecer os desatinos que, hoje, me fazem fazer uma folia pela vida.

Se brincasse de inventar amores apenas para saciar o desejo latente, talvez, levasse para a cama mais de mil mulheres, mas, com certeza, não conheceria o fogo e o furor das paixões. Se eu dobrasse a esquina contrária àquela que eu dobrei, será que encontraria uma fortuna em dinheiro? Contudo, essa esquina, pela qual passei, me fez encontrar, no fim do arco-íris, um pote, não de ouro, porém, de talento. A vida não conhece o efeito borboleta, por isso, vivo o futuro no presente, mas conversando, sempre, com o passado.

Mário Paternostro