Tudo vira bosta
Tudo vira Bosta
É no supermercado que muitos desconhecidos se conhecem e velhos amigos se reencontram. Em meio a estantes cheias de produtos com datas de validade e alguns seres humanos já vencidos, alguns amores até nasceram e trocaram telefones e etiquetas. A validade é de acordo com quem suporta mais a rotina e o preço do dia a dia.
No supermercado pode-se notar a condição financeira de cada um que passeia pelos boxes, o bom gosto para comer e beber e até quem faz festa com a "xepa" do mundo. Os carrinhos abarrotados de alimentos gordurosos apontam um obeso mórbido e aquela cestinha com frutas e verduras denuncia alguém preocupado com a saúde - o controle do corpo passeia pelos corredores estreitos e doentes entre prateleiras. Quanto custa o quilo da carne de primeira? Grita um cliente com seu dinheiro contado e sua vida de trocos. Nessa hora, também ,percebe-se o quanto ganha cada cidadão e quantos cálculos faz um pai de família para que seu salário termine o mês.
É no supermercado que verifica-se a festa da criançada quando passa pela estante de doces e brinquedos e os pais, segurando o não, vão retirando do carrinho cada sonho e brincadeira que a meninada deseja. Em momentos de contenção de despesa muitos cortam o necessário e se enganam dizendo para si mesmos que era o supérfluo. Das tripas corações, ou melhor, a feijoada de domingo é o desabafo do trabalhador, que passa pela prateleira de bebidas importadas e vai direto para a caixa de cerveja em lata e uma boa “meota” para esquentar o frio excludente.
É no supermercado que apertos de mãos são dados com sorrisos promocionais e afagos a varejo. Tudo dura enquanto não terminam as compras, enquanto aquela velha listinha, feita horas antes, não é conferida A receita deve sobreviver e promover a sobrevivência. A vida circula no supermercado, pulsa nos corredores e vai se acabar no caixa, onde se colocam as compras, os vícios e os sacrifícios.
Depois de encerrada a etapa da consumação e dos encontros furtivos, alguns pagam com dinheiro e outros com cartões, mas tudo, tudo, no outro dia, vira bosta.
Mário Paternostro