Em Belém é assim...
Do lado de fora, apesar da aparência triste, ele ainda me rouba os olhares e os pensamentos. Embora caduco, o casarão que fica na esquina daquela rua feita de mangueiras ainda reina com toda sua majestade. Em Belém, na época em que a borracha era ouro, eles foram construídos por homens que vieram de outras terras. Terras distantes, sem borracha e sem ouro.
Eram imponentes, de dar inveja ao caboclo nas noites de festa. Meu olhar é atraído por um em especial, não sei exatamente o porquê, mas aquele me rouba a atenção. Quando estou diante dele, o tempo não faz barreiras. Nas noites de baile, estou lá, vestindo um longo, subindo as escadarias e roubando corações. A valsa já havia iniciado quando entrei no salão naquela noite, sozinha, sentei-me e me deliciei com a arquitetura do casarão. Como era imperial a arquitetura! Madeiras desenhando formas requintadas, paredes tão altas que para tocar o teto, três homens teriam que formar escada, e as escadas então, com seus corrimãos cheios de glamour. Tudo tão diferente do que havia por aqui. Os homens que vieram de outras terras trouxeram um pouquinho da Europa para a Amazônia e por esse motivo, nunca me importei com a troca de borracha por casarões.
Após alguns minutos de contemplação, um rapaz muito garboso, vestido de branco com um chapéu elegante sobre a cabeça me convidou para dançar. Eufórica com sua beleza e com a possibilidade de uma linda noite de cinderela, aceitei. Dançamos muitas danças sobre o piso brilhante de madeira, mas meu príncipe cansou-se e queria passear comigo à beira do rio. Apesar do encanto da noite, eu não estava na Europa e aquele gentil cavalheiro não era meu príncipe, então, antes que ele me enfeitiçasse e me levasse para o fundo das águas, desci as escadarias.
Aqui em Belém é assim, convivemos com pedacinhos de castelos e com botos também.
*Crônica publicada no BVIWtecendoletras. Lá você encontrará também crônicas de outras autoras. Todas maravilhosas. Estamos aguardando sua visita!