Um Campeonato Paulista Histórico - 1942
O campeonato Paulista de Futebol de 1942, realmente, teve muitas novidades, devido ao fato de estar em andamento na Europa, a 2ª Grande Guerra. Até no futebol paulista o conflito mundial se fez sentir, desencadeando uma série de consequências.
O Palestra Itália teve de adotar o nome de Palestra e, posteriormente, diante de novo decreto presidencial que obrigava instituições com referencias em seus nomes a países do Eixo (Alemanha e Itália, principalmente) a modificar seus nomes, veio a adotar o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras.
Em Santos, o Espanha FC teve de mudar seu nome e passou a ser denominado Jabaquara Atlético Clube. Muito embora a Espanha não fizesse parte do Eixo, seu mandatário máximo o Generalíssimo Franco, apoiou as forças nazistas, que inclusive tiveram participação decisiva na Guerra Civil Espanhola de anos anteriores. Os horrores dessa participação foram retratados por Pablo Picasso em seu célebre Guernica.
Em 1942, o Palestra e também o Espanha começaram a disputar o campeonato com esses nomes. Começaram pois, como veremos adiante, outras mudanças aconteceriam.
O Palestra foi o campeão paulista de 1942. Vamos relembrar um jogo do campeão contra todos os seus adversários:
1º Jogo Palestra 6 x 0 Espanha. Palestra: Oberdam, Junqueira e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Claudio, Romeu, Echevarrieta, Lima e Pipi. Espanha FC: Nélson, Lulu e Isames; Mário, Dino e Santana; Luizinho, Bemba, Baía, Leonardo e Raposo.
2º Jogo Palestra 2 x 1 Portuguesa Santista. Palestra: Oberdam, Carnera e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Claudio, Romeu, Cabeção, Lima e Pipi. Portuguesa Santista: Ciro, Carrapicho e Asquarza; Julinho, Lulu e Antero; Vega, Frederico, Olegário, Riolando e Tom Mix.
3º Jogo Palestra 3 x 2 Santos. Palestra: Clodô, Carnera e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Claudio Cristovão do Pinho, Américo, Cabeção, Lima e Pipi. Santos: Nobre, Gradim e Osvaldo; Aiala, Figueira e Elesbão; Zoca, Guilherme, Hemédio, Antoninho Fernandes e Rui.
4º Jogo Palestra 3 x 2 São Paulo Railway (S.P.R.). Palestra: Clodô, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Claudio, Romeu, Echevarrieta, Lima e Pipi. S.P.R. : Cetali, Celso e Negreiros; Tampinha, Espínola e Vicente; Agostinho, Nélson, Guanabara, Passarinho e Duzentos.
5º Jogo Palestra 1 x 1 Corinthians. Palestra: Clodô, Junqueira e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Claudio, Romeu, Cabeção, Lima e Echevarrieta. Corinthians: Pio, Agostinho e Chico Preto; Jango, Brandão e Dino; Gerônimo, Servilio, Teleco, Eduardinho e Milani.
6º Jogo Palestra 4 x 0 Juventus. Palestra; Oberdam, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Cabeção, Lima e Viladonica. Juventus: Robertinho, Ditão e Sordi; Paulo I, Moacir e Nico; Mendes, Paulo II, Ferrari, Caio e Osvaldinho.
7º Jogo palestra 6 x 0 Comercial FC (da Capital). Palestra: Oberdam, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Cabeção, Viladonica e Lima. Comercial FC: Alfredo, Manolo e Ciofi; Brito, Correia e Toni; Dirceu, Bruninho, Romeuzinho, Ozéias e Mário Silva.
8º Jogo Palestra 4 x 0 Portuguesa de Desportos. Palestra: Oberdam, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Cabeção, Viladonica e Lima. Portuguesa de Desportos: Rodrigues, Pepino e Ulisses; Mimi, Jota e Orozimbo; Genarino, Gambeta, Charuto e Gambola.
9º Jogo Palestra 4 x 0 Ypiranga. Palestra: Oberdam, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Cabeção, Lima e Viladonica. Ypiranga: Barbosa, Aníbal e Sapólio; Vega, Ortega e Hélio; Aldo, Hortêncio, Miguelzinho, Lupércio e Edmundo.
10º Jogo Palmeiras 3 x 1 São Paulo. Palmeiras (mudança de nome): Oberdam, Junqueira e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Viladonica, Lima e Echevarrieta. São Paulo: Doutor, Piolim e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho, Valdemar de Brito, Leônidas da Silva, Remo e Pardal.
O Palmeiras jogou pela primeira vez com este nome, contra o São Paulo FC. E nesta partida sagrou-se campeão paulista de 1942. Durante a campanha de 1942, teve de substituir vários jogadores, como Romeu Peliciari, tri-campeão paulista pelo Palestra Itália, 1932-33-34, já veterano.
Romeu e Leônidas da Silva foram as grandes armas do Brasil na Copa da França, em 1938, formando uma linha atacante fabulosa com Lopes, Romeu, Leônidas, Tim e Hércules. No tri campeonato de 1932-33-34, no Palestra Itália, jogou na linha atacante formada por Avelino, Gabardo, Romeu, Lara e Imparato. Indo para o Fluminense do Rio de Janeiro, Romeu foi tri-campeão carioca em 1936-37-38, formando num time quase imbatível, quase uma seleção brasileira com Batatais, Guimarães e Machado; Marcial, Brant e Orozimbo; Sobral, Lara, Romeu, Raul e Hércules.
Romeu Peliciari, que começou no Palestra Itália em 1931 num grande time do alviverde, ainda com um “PI” em vermelho, na camisa, atuou com Nascimento, Volpone e Loschiavo; Pepe, Golhiardo e Cambom; Ministrinho, Romeu, Heitor, Lara e Osses.
Romeu atuou com Heitor, um dos maiores centroavantes da história do Palestra e do Palmeiras, e que terminou jogando um grande futebol no Comercial de São Paulo, um bom Clube que dava retaguarda a todo bom jogador, mesmo aos veteranos, que fossem para o Comercial da Praça Clóvis. Romeu atuou no Comercial com dois colegas da Copa do Mundo de 1938, Brito e Machado, e um centroavante argentino, muito técnico, chamado Munt.
O Comercial nessa época formava com Pio, Carnera e Machado; Brito, Munt e Bala, Mendez, Romeu, Romeuzinho, Paulo e Aleixo.
Vamos falar um pouco de Og Moreira. Og veio do Fluminense FC para o Palestra em 1941. Foi muito bem aplaudido pela torcida do Palestra, que diziam ser contra jogadores negros. Og Moreira foi o primeiro negro a vestir a camisa alviverde. Era um ídolo da torcida que o chamava de “Toscanini”, em alusão ao grande maestro italiano. Og havia jogado, também, no América do Rio de Janeiro.
Jogou muitos anos no Palmeiras, sempre bem. Um dia, já veterano, passou para o CA Juventus, da Mooca, e em seguida para o Nacional AC, da Rua Comendador Souza, com grande brilho.
Falemos agora algo sobre Zezé Procópio. Em 1942, Zezé Procópio veio do Botafogo do Rio de Janeiro. Grande jogador, esteve na Seleção Brasileira de 1938 formando uma linha média de respeito, junto com Martim Silveira e Afonsinho. Todos tecnicamente bons jogadores, mas que não alisavam ninguém e não tinham medo de cara feia, fosse no Brasil ou no exterior. Os argentinos, sempre bons craques, mas muito manhosos, diziam que Zezé, Martim e Afonsinho eram a melhor linha média da época. Quem afirmava isso eram Stábile, Baldonero, Scopelli e Francisco Garcia, grandes atacantes argentinos.
Zezé jogou no Botafogo, em seu ultimo ano no alvinegro, com Aimoré, Caieira e Gran Bell; Zezé Procópio, Santa Maria e Zarci; Pirica, Geninho, Heleno, Pascoal e Patesko. Zezé foi campeão em 1943 com o São Paulo formando na equipe que contava com King, Piolim e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Noronha; Luizinho, Valdemar de Brito, Leônidas da Silva, Sastre e Pardal, um timaço.
Depois, Zezé Procópio voltou ao Palmeiras em 1944 e jogou até encerrar a carreira em 1948, ano em que disputou só algumas partidas. Em 1947 foi campeão paulista com o Palmeiras que tinha como base Oberdam, Caieira e Turcão; Zezé Procópio, Tulio e Valdemar Fiume; Lula, Arturzinho, Osvaldinho, Lima e Canhotinho. Zezé parou e foi ser técnico de grandes equipes por muito tempo.
Desta forma, tentei descrever o Palestra Itália, Palestra ou Palmeiras, do ano de 1942 e algo dos seus grandes ídolos. Para finalizar, o time base do alviverde em 1942: Oberdam, Junqueira e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio Cristovão do Pinho, Romeu, Echevarrieta, Lima e Pipi.