Caí no samba!

Final de tarde de janeiro, véspera do meu aniversário; caminhava sozinha à beira mar, enquanto pensava no quanto já havia caminhado na vida e, lembrei de gente que há muito eu não via especialmente da minha primeira amiga, a quem chamo de Estrela guia, pois quando vim ao mundo ela tinha nove meses e morava com seus pais na casa dos meus pais, num dos quartos alugados.

Foi com Edna que atravessei a infância e metade da adolescência, embora fossemos bem diferentes. Ela negra, com pais e avós umbandistas, primeira filha do casal. Eu, branca, pais evangélicos, oitava filha.

Ficamos vinte e cinco anos sem termos notícia uma da outra, mas naquela manhã, eu lembrei tanto dela...

No dia seguinte, como se tivesse captado o meu pensamento, Edna foi a primeira a me ligar por meu aniversário!

Senti tanta saudade que prometi que iria passar o carnaval com ela. Tomei o ônibus às 22h40minh e 05h30minh da manhã cheguei à Marília. Só então percebi que não havia levado nem o endereço e nem o telefone dela, mas como havia lhe informando o horário do ônibus, simplesmente esperei. Dez minutos depois, a vi descer as escadas da Rodoviária com o seu marido; os dois fantasiados e cobertos de purpurinas; mesmo assim os reconheci de imediato, e foi uma alegria danada!

A primeira coisa que ela me disse foi:

-Sou diretora de uma Escola de samba, e vamos desfilar amanhã. Você ainda é evangélica?

-Não, eu não sou; por quê?

-Porque curtimos muito o carnaval. Vamos em casa tomar um lanche. Nós voltamos pra Quadra, se você quiser venha conosco; se não, descanse que amanhã é dia de desfile!

Preferir ficar dormindo. A ansiedade foi tanta que não preguei os olhos na viagem, e o amanhã é uma incógnita.

Na manhã seguinte, por incrível que pareça, após passarem a noite e madrugada no samba, às 11 da manhã fomos visitar a casa onde as fantasias recebiam os últimos retoques. Ouvi Edna conversando com uma costureira:

_Não sei como faremos. Precisamos arranjar baianas ou perderemos pontos. Temos seis, e dez é o mínimo exigido. Citaram pessoas que poderiam ser convidadas, riram entre si, mas eu estava tão encantada com a arte e criatividade das fantasias confeccionadas com o material reciclável que a comunidade juntou o ano inteiro, que não prestei atenção no resto da conversa delas.

As perucas feitas de retalhos de panos amarradas em saquinhos de cebola eram primorosas!

O efeito plástico eu puder ver na avenida, pois as Emílias desfilaram bem na frente da ala das baianas onde eu desfilei, sem tirar os olhos das outras baianas, pra poder imitá-las, enquanto minha amiga em estado de graça, foi a única Porta bandeira nota dez!

Eu nunca me diverti tanto!

Quando voltei contando a aventura, minha mãe então com 80 anos, e evangélica me surpreendeu:

_ Você fez muito bem em aproveitar. Há coisas que só acontecem uma vez na vida!

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 06/03/2011
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