As serpentes
Nem sempre, o lar familiar é o lugar acolhedor que precisamos e desejamos que seja. Embora seja desagradável ter que reconhecê-lo, nossos pais podem ser os nossos piores inimigos. Eu mesma tive que admitir isso ainda muito pequena. Nunca entendia porque meu pai sempre reclamava comigo, chamava-me de burra, dizia que eu nada fazia direito e me comparava com minha irmã. Ela era a inteligente e eu era a retardada, a que nada fazia direito, a lerda e boboca. Várias vezes, ele chamou a atenção para meus quilos a mais, apelidando-me de baleia e elefanta. Muitas vezes, ele me chamou de brucutua e já chegou a dizer que uma bruxa não podia ser mais feia do que eu.
De nada adiantaram meus maiores esforços para mostrar que eu não era burra nem idiota. Eu aprendi inglês sozinha, ajudo minha mãe com as tarefas e ele continua me tratando como se eu fosse uma criança idiota. Por mais que eu prove que sou capaz e responsável, ele subestima o que eu faço.
Depois que consegui publicar meu primeiro livro,ele o leu e disse que era uma porcaria. Mesmo com tanta gente dizendo que tinha adorado, ele ficou dizendo que tinha feito apenas uma crítica e eu não gostara por não ser capaz de entender que só crescemos com críticas. Bem, chamar o que alguém faz de porcaria não é uma crítica, mas uma crueldade.
Porém, eu não aguento mais calada. Quando ele vem me dizer que eu vou ser a tia velha e empregada dos meus irmãos, que tenho que ser o satélite deles, que pareço com a mulher nariguda do desenho do Pica-Pau, eu o chamo de Joe Jackson, o pai do Michael Jackson.