CARNAVAL
O que seria o Carnaval, senão a vida em fantasias?
Curto é o período quando serpenteam as massas nas praças e avenidas. Multidões ostentam adereços sob os holofotes momescos por toda parte da cidade: agitam afuxês, ganzás, maracás e chocalhos; em sincronia, requebram os quadris e sua sorte.
A festa, que arrasta milhões, foi aguardada por um ano; é tempo de alegria e de dar asas à criatividade. Mais uma vez, os foliões vão se iludir com o imaginário de prazeres, que se desfarão ao cabo dos quatro dias de entusiasmo coletivo.
Platéias ornamentadas de lantejoulas e miçangas acompanham os protagonistas mascarados, em trajes de orgia, que sapateam horas a fio sobre lembranças de trabalho, mesas famíliares e fiéis amores; estes, arrolados no recesso da atenção, e, portanto, legados à indiferença, convertem-se em cinzas junto ao siso dos entusiastas dadivosos, até o raiar do sol, afinal, na quarta-feira.
Pedem passagem nos bailes populares os sons dos pandeiros e dos tamborins. No espetáculo desfilam confetes, paetês e serpentinas. E, sambando a realidade em alegorias, o povo se ajusta ao assopro dos apitos e ao compasso das baterias, sem perceber que o Carnaval apenas fantasia a vida!