Sejam bem- vindos, sou a Morte.
Poucas pessoas na platéia ansiosas para conhecerem quem se apresentava como Morte.
Quando as cortinas se abriram, no centro do palco apenas a palestrante.
Uma luz muito fraca, quase penumbra não permitia distinguir bem sua figura, era apenas um esboço de uma silhueta, o silêncio tomou conta do ambiente.O suspense pairava no ar, a platéia, estava estática,o tempo tinha parado!
A sombra com voz calma e doce iniciou sua apresentação.
- Sejam bem vindos. Sou a Morte e tenho muito a lhes dizer, espero que me entendam, o que será bastante difícil, mas me dirigirei a vocês numa linguagem simples e espontânea.
Tenho uma irmã gêmea muito querida, ela se chama Vida, somos muito dependentes uma da outra, em outra ocasião lhes falarei sobre ela.
Resolvi hoje abrir meu coração e confessar o que até hoje não pude pois todos fogem ao ouvir meu nome!
Sinto-me injustiçada!Vocês me imaginam como uma figura sinistra, vestida de preto com uma foice na mão e um capuz cobrindo o rosto que supõem seja horrível, no mínimo uma caveira, figura imaginada para acabarem comigo e indispor vocês contra mim...Pura maldade!
Acreditem, não sou assim...
Tenho minha beleza, sou alegre, feliz, amiga, responsável, e não me visto de preto.
Vivo livre pelo universo cantando músicas suaves.Quem já esteve próximo de mim sabe que tenho uma linda luz que a tudo ilumina, que sou bela e meiga. Quando alguém é levado por engano, imediatamente corrijo o erro e a trago de volta a vida, muitos já viram meu brilho.
Não me pergunte de quem e como recebo ordens por que não direi, apenas obedeço rigosamente.
Os desesperados me deixa maluca me chamam insistentemente, tentam de todas as maneiras acabar com a própria vida, eu os impeço.Não posso transgredir ordens superiores. Sou uma profissional responsável e consciente do meu papel.
A maioria diz que a vida é uma droga, vivem doentes, endividados, indo a psiquiatras, se matando de trabalhar, dominados pelos sentimentos mais desencontrados, sofrendo dores terríveis, brigando como doidos, quando eu ponho um fim a tudo, reclamam...
Realmente não entendo mais nada!
Quando levo alguém, a família se revolta me ofende, acham que sou injusta...
Pensam que tenho descanso?
Jamais!
Acredito que ainda deva haver um barqueiro que se chama Creonte , sempre me ajudava, mas ele está velho demais e nem sei se ainda está trabalhando no Rio Estige, portanto sobra tudo para mim sozinha.
Ponham-se no meu lugar e vejam se é fácil.
Pense na dificuldade de conferir e levar comigo os mortos numa guerra.
Quando estão todos juntos é fácil, sempre devolvo os que se encontravam no momento errado no local da catástrofe.
Quando vejo médicos tentando impedir meu trabalho, algumas vezes dou uma pausa para que eles não se sintam frustrados. Correm desesperados para ligar pessoas a mil aparelhos, para mante-los vivos. Eu apenas espero, mas se a ordem vier para eu fazer meu serviço, eu faço!
Eles ficam decepcionados, magoados duvidando da própria capacidade de salvar vidas, considero essa duvida uma bobagem!
Sou natureza, sou invencível!
O que vocês querem?
Viver mil anos mesmo caindo aos pedaços, cheios de dores, de doenças, sem nem poder se mexer?Babando de velhos e loucos?
Acredito que não.
Então porque vocês se revoltam contra mim?
As crianças, e os sofredores partem sorrindo, sabem que não deveriam permanecer mais na terra e voam felizes para a luz!
Parem de querer ser sabichões e ter posse de tudo!
Vocês querem reter ao seu lado até quem esteja sofrendo demais, para satisfazer seu egoísmo, porque VOCE precisa da presença dela,evita a separação. Será que o outro precisa da sua presença?
Entenda o meu patrão é que sabe o que deve ser feito e não vocês.
Porque não se convencem que não são donos de nada, nem de vocês mesmos?
Porque vocês se acham especiais, o que pensam que são?
Seu orgulho não lhes permite que se vejam como realmente são, apenas mais um dentre tantos que fazem parte da natureza, e ela obedece a um ciclo de vida e vocês também!
Então porque é difícil aceitar essa verdade?
Faço meu trabalho com muita dedicação, a todos levo na maciez e calor dos meus braços envolvidos pelo meu amor.
Muitos partem felizes e sorrindo, outros olham para os que ficaram e tristemente choram por não poder conforta-los, os que se desesperam tentam se acercarem dos que deixaram, logo volto para busca-los e lhes dar paz .
Lembrem sempre de mim , do que realmente sou, uma libertadora!
Ficarei grata se meditarem um pouco sobre minhas palavras e que me compreendam um pouco mais, não peço que me amem, mas pelo menos não me odeiem...
Obrigada pela presença.
Como por encanto, desapareceu...
A platéia começou vagarosamente a se mexer e de cabeça baixa foram deixando o recinto...
M.H.P.M.