Caçadora de lantejoulas

Carnaval na década de 90 e tudo que aquela garotinha precisava era de uma caixinha de fósforo vazia. Não queria fantasia, não queria máscaras, não queria purpurina. Apenas uma caixinha de fósforo vazia. Era lá que ela guardaria todas as lantejoulas que encontrasse pelo bairro a tarde.

Não pela manhã, não pela noite... somente a tarde.

Era poderia simplesmente pedir que sua mãe comprasse lantejoulas para ela, mas não seria o mesmo. Não haveria o gosto da caça, a diversidade dos tamanhos e cores. Não haveriam as conversas informais e despretensiosas entre uma criança e um adulto personificando o que chamam de cumplicidade.

Tudo que ela queria era que todos se divertissem muito a noite, pulassem e cantassem para que a tarde as ruas estivessem cheias de testemunhas da alegria. Testemunhas de plástico reluzentes.

Na sua cabecinha de criança o bairro era enorme e talvez ela nunca tenha percebido, naquela época, que tudo que ela percorria em busca de lantejoulas perdidas eram apenas três ou quarto ruas, tempo exato para o sol de por. Depois disso, era abrir a caixinha na cama e deixar que caíssem tolas as lantejoulas douradas, prateadas, azuis, rosas e verdes. Como era difícil uma lantejoula de outra cor! E quando achava estrelinhas, que alegria!!!

E assim passaram os carnavais de 92, 93 e até 94 talvez. Não me recordo bem os anos, embora saiba que do sabor singelo desses carnavais eu jamais irei me esquecer.