O ser humano; da capa a contracapa.

O começo de qualquer relação, sempre nos trás certa leveza, uma sensação de recomeço, como se tudo o que ficou para trás perdesse um pouco de seu peso e assim, passamos a focar as nossas expectativas nessa nova possibilidade, nesse novo momento, mas o foda da vida, é que em cada momento tudo é o que parece ser e fazemos de tudo para que esse momento não passe, mas o momento sempre passa e é aí onde passamos a enxergar tudo por outro ângulo, onde percebemos que na verdade muito do que vivemos e acreditamos, foi um engano.

Seria muito mais fácil se as nossas relações fossem como nos livros ou se pudéssemos escrever o nosso próprio roteiro sem a intervenção do acaso, há quem diga que isso é possível e se for, veja bem: Capa, livro, contra-capa, tão prazeroso cada etapa, não é mesmo?... No começo, o desejo, o calor intenso do beijo, onde nenhum medo, segredo ou privacidade ainda fora invadido... No meio a fantasia, o clímax, onde aquele medo de se revelar e que os mantém com os pés no chão, não os permitindo realmente se entregar, dá espaço a aceitação e segurança, onde cada um se aceita numa troca de favores que se equivalem, mantendo assim, um equilíbrio na relação... No fim a certeza apos muitas incertezas, a segurança após muitas inseguranças e o para sempre de uma história conturbada, porém feliz... No índice o medo e no the end tudo o que a gente sempre quis.

Às vezes me pergunto se uma relação, para ela ser feliz, assim como nos livros, é preciso passar por tantas provações, tantos obstáculos, tantas dúvidas… Dizem que o principal numa relação é o amor, mas será que existindo amor, mesmo assim as coisas serão sempre tão difíceis? Será que existe um meio de pularmos da linda capa logo para o final feliz? Estou começando a achar que as pessoas se alimentam de todo e qualquer tipo de sentimento e estados de espírito, onde só ser feliz não as satisfazem, onde uma vida sem tristezas, sem dores e sem frustrações, não as faz sentir vivos então, acabam sempre provocando o acaso que sempre lhes oferece muitas opções e antes de seguirem o melhor caminho, acabam sempre antes, querendo provar do que talvez pensem que ficará para trás e nunca terão outra chance de experimentar tais experiências. A real mesmo, é que nos apegamos a tudo, fazemos de tudo a nossa posse, talvez numa tentativa de tapar todo e qualquer vazio, já que o vazio é o que mais nos amedronta, pois o nosso maior medo é de não termos uma platéia ou de não termos onde nos amarmos além de nós mesmos.

Estou começando a achar que essa busca pelo amor, nada mais é que uma forma de tentarmos tomar posse dele ou de talvez querer estar sempre próximo a ele, ou do que chega mais próximo do que acreditamos que ele seja, o problema é que enxergamos amor em tudo o que desejamos, ou tentamos transformar em amor tudo o que tocamos, fazendo assim, que a montanha venha a nós e não nós a ela. Na maioria das vezes preferimos acreditar estar tocando o amor, mesmo estando de olhos vendados, onde mentimos tanto para nós mesmos, que chega uma hora que acabamos acreditando em nossas próprias mentiras… Onde nem sequer temos a coragem de questionar nossos reais sentimentos, onde o medo de encontrar qualquer coisa que prove o contrário, fazendo com que toda entrega perca o sentido, nos faz querer seguir cegos, onde nos apegamos mais ao que já entregamos do que necessariamente ao próprio sentimento. Ser humano está cada vez mais difícil…

~~Loucuras de Mili~~

(Rascunho)