A GRANDE GREVE DO PÓLO PETROQUÍMICO DE CAMAÇARI – UMA HISTÓRIA DO BRASIL (1)

Todos aqueles que se situam em posições dominantes não permitem que certos fatos importantes sejam lembrados para que não aflore entre as pessoas a “memória perigosa”.

Tudo começou com a morte do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954. Com este episódio se verificou um aumento da cobiça pelo poder no Brasil e uma tentativa de fortalecimento de uma candidatura de união nacional com dois grandes partidos, o PSD (Partido Social Democrático) e a UDN (União Democrática Nacional), na tentativa de eliminar os radicalismos getulistas. Porém essa união não aconteceu, tendo o PSD homologado a candidatura de Juscelino Kubistchek para presidente da república. Logo o PTB (o partido de Getúlio Vargas) fez acordo, pondo João Goulart como vice-presidente.

Os outros partidos, inclusive o PCB (Partido Comunista Brasileiro) fizeram de tudo para inviabilizar essa coligação. Na época não havia vinculação entre a candidatura de presidente e vice, tendo sido Juscelino foi o mais votado para presidente e João Goulart o mais votado para vice, unindo os dois para governarem o país a partir de 31 de janeiro de 1956.

Juscelino fez um governo popular, sendo apoiado pela grande maioria da população, Durante o seu mandato Brasília, a nova capital federal foi projetada e construída, foi dinamizada a Siderúrgica Nacional criada no governo Vargas, surgiu a indústria automobilística no país com a declaração do presidente que realizaria 50 anos de progresso em apenas 5.

O ano de 1958 foi talvez o ano mais feliz da história brasileira. O povo se encontrava exultante. O Brasil ganhou pela primeira vez a Copa do Mundo; Pelé e os demais jogadores se tornaram heróis nacionais; as grandes capitais tiveram o mais alegre carnaval ao som daquelas marchinhas cariocas que satirizavam políticos; havia uma grande aura de democracia e tranqüilidade na nação; o surgimento da bossa nova no seio da música popular brasileira; o país ficou mais conhecido no mundo e tudo isso foi massageando o ego dos brasileiros que se enchiam de orgulho.

[Em 1958 Salvador ainda não tinha um carnaval de tradição e todos brincavam ao som de marchinhas do carnaval carioca e aquele cheirinho agradável dos “lança perfumes”. Era um carnaval muito mais alegre, espontâneo e sem os perigos que observamos nos carnavais de hoje.]

No intuito de acelerar o desenvolvimento da Região Nordeste do país, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE em 1959 e com isso, a Bahia e Sergipe que faziam parte da Região Leste, reivindicaram pertencer à Região Nordeste, com certeza visando as verbas que seriam enviadas pelo Governo Federal. Até Minas Gerais aproveitou a deixa para declarar o seu “Triângulo Mineiro” como região necessitada. O dinheiro fornecido pela SUDENE foi aproveitado apenas pelos “coronéis” da região, impedindo assim a realização da Reforma Agrária. Brasília, a nova capital do país foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960.

Jânio Quadros foi o próximo presidente após Juscelino, sendo o primeiro presidente brasileiro a tomar posse em Brasília. Teve também como vice, João Goulart. Foi um rápido governo, atingido pela inflação. Um governo estranho: ao mesmo tempo em que apoiava a elite, declarava combater o comunismo e ao mesmo tempo condecorava Che Guevara, um líder comunista. Foi deposto em 25 de agosto de 1961.

O seu sucessor, segundo a Constituição seria o vice, João Goulart. Mas como se encontrava na China em visita oficial, assumiu Ranieri Mazilli, que era o Presidente da Câmara. Da China, Jango foi aos Estados Unidos, também em visita oficial e quando retornou ao Brasil encontrou dificuldades para assumir o cargo porque os militares tentaram impedir a sua posse alegando que ele colocava a segurança nacional em risco. No entanto havia políticos e militares como o Marechal Lott que era favorável ao cumprimento da Constituição. Assim, Jango foi empossado no dia 7 de setembro de 1961, com a arbitrária mudança do regime para o parlamentarismo, tendo Tancredo Neves como Primeiro Ministro.

O parlamentarismo estava prejudicando o mandato de João Goulart, impedindo-o de dar andamento aos seus projetos de governo. Dessa forma, em 1963, foi realizado um plebiscito onde a população votou pelo retorno ao presidencialismo, podendo assim ser implementadas por Jango as Reformas de Base. Isso atiçou forças reacionárias comandadas pelos empresários, pelos grandes proprietários, militares e pela elite. Foi assim que se realizou a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” e se começou a desenhar o golpe de estado contra o governo que se consolidou no dia 1º de abril de 1964, iniciando um período de ditadura que cerceou a liberdade e o direito dos brasileiros de 1964 a 1985.

[Eu era ainda muito criança, mas me recordo bem da força que foi empreendida para que o país voltasse ao regime presidencialista. No dia 23 de janeiro de 1963 foi realizado o plebiscito que com 82% dos votos devolveu ao Brasil o regime presidencialista. Nessa data eu estava com o meu primo e padrinho Pedro Capinam em Pedras, povoado pertencente ao município de Esplanada, onde o mesmo votava. Havia até um “jingle” de propagada contra o parlamentarismo divulgado pelas emissoras de rádio cantado por vários artistas brasileiros famosos à época como Grande Otelo e Zé Trindade: “Eu vou fazer um sim no quadrinho ao lado da palavra não / parlamentarismo não, o povo tem razão, / eu vou fazer um sim, um sim ao lado da palavra não / não, não, não...”]