Contratando uma empregada!
 
 
Primeiramente quero deixar claro que respeito muito as empregadas domésticas, são pessoas que batalham numa profissão que não é das mais fáceis, a maioria é arrimo de família, mas duas mulheres no mesmo espaço não é brincadeira!
Minha empregada Natalina, amiga, companheira, confidente depois de mais de quinze anos trabalhando comigo, resolveu se casar e o marido não quer mais que ela trabalhe.
Ela se casou, mas parece que não mudou, vive mais na minha casa que na dela, diz que ainda não “desmamou” e o marido vem também a tiracolo. São amigos muito queridos.
Quando lhe conto sobre as pessoas que aparecem se candidatando ao emprego ela se diverte e diz para eu deixar que ela me ajuda quando eu quiser,não preciso contratar ninguém, mas eu prefiro procurar uma outra pessoa, sei que vai ser difícil encontrar, mas se for alguém com 5% parecida com ela, já está bom.
Ai meu Deus, foi o caos!
Minha mãe me ensinou um truque para saber se você deve ou não contratar a candidata.
Coloque atravessada no chão uma vassoura por onde ela for passar.
Se ela se abaixar para tirar a vassoura do caminho e a colocar encostada em algum lugar, pode contratar que é boa.
 Se ela pular a vassoura, manda embora, é desordeira...
Sabia que funciona de verdade!
Mas outro dia quase perdi a paciência com uma “figurinha carimbada” que me apareceu.
Justo nesse dia esqueci da vassoura...
A candidata era uma moça de mais ou menos uns vinte e sete anos, bem apessoada, com as sobrancelhas e olhos pintados. Era um arco grosso carregado de lápis preto, acho que se inspirou na cantora Amy Winehouse, aquela inglesa que andou aterrorizando por estas bandas, mas era em versão um pouco melhorada da cantora.
Começamos a conversar... Aquele papo de como vai , etc. e tal.
Ela sentada no sofá foi logo dizendo suas condições, antes mesmo de dizer seu nome, perguntar o meu ou me deixar falar, muito menos disse suas qualificações!Despejou tudo de vez!
- Olha dona, eu vim aqui primeiro porque é mais perto, depois vou em mais duas casas para fazer entrevista. Eu chego no serviço as 8 da manhã e saio as 5 da tarde,isso na segunda e na terça feira.Na quarta e quinta tenho que sair as 2 da tarde porque tenho aula de corte e costura, na sexta saio as 3 da tarde,  porque tenho que fazer super mercado, sábado e domingo não trabalho. Mas já aviso que não lavo roupas nem na máquina e nem passo também, não saio para fazer compras para a casa e não uso uniforme.
Quero ganhar $$$$, quero vale transporte, e carteira assinada pelo ordenado certo. Outra coisa muito importante,  também  quero liberdade para usar o telefone quando quiser...
Felizmente se calou!
Caramba!
Logo imaginei que ela deve ter falado tudo de uma só vez por estar ansiosa, mas não era não, ela falava calmamente, não parecia nada nervosa, muito pelo contrário...Será que não “foi com a minha cara”?
Minha cabeça deu um nó!
Era muita informação vinda de uma só pessoa , ainda mais todas de uma só vez!
Me levantei, peguei lápis e papel e pedi que ela repetisse todas as exigência enquanto eu anotava...
Poxa, ela nem quis saber sobre o trabalho, não me perguntou nada. Só jogou um “caminhão de melancia” em cima de mim... Não quis nem ouvir minhas razões, e nem o que eu tinha a lhe oferecer!
Eu estava fervendo de indignação de ver a folga da dita cuja...
Parei e pensei comigo mesma.
Ahhhhh ,mas isso não vai ficar assim...
Quando paro e penso é perigoso.
- Como é seu nome?
-Elisabete.
(Deve ser a rainha da Inglaterra que se desviou da rota...)
-Elisabete, você sabe tocar piano?
Ela me olhou surpresa, os olhos pintados maiores que um pires...
-Não, não sei por que você pergunta?  ( não gostei do você, mas tudo bem, fazer o que!)
-Olha Elisabete, vou te explicar com calma para você entender tudo bem direitinho.
-Tá.
-Sabe, eu adoro ouvir música, principalmente enquanto estou trabalhando.
-Eu também escuto radio o dia todo, gosto de música bem alta, a senhora tem radio né? Se não tiver eu trago o som lá de casa, eu tenho dois.
-Tenho rádio sim, mas escuta o que vou dizer. Quero te contratar para tocar piano.
-Tocar piano?Isso eu não sei, pra que você quer?
-É, tocar piano, porque daí eu trabalho com música sem ser de rádio, mas infelizmente como você não sabe tocar piano não posso te admitir. Agradeço sua visita, mas infelizmente não deu certo, né? Quem sabe você arruma logo uma casa que aceite suas condições, mas obrigada por ter vindo, valeu!
Ela ficou parada tentando assimilar o meu discurso.
Se levantou feito sonâmbula, me estendeu a mão para se despedir e saiu meio tonta...
Nesta criatura deve faltar um parafuso, só pode, e eu acabei de afrouxar os outros!
Deve estar pensando que tem que freqüentar uma escola para aprender piano...
Voltei para a sala aborrecida, com pena dela , mas “cuspindo brasas”...
Quer saber do que mais, vou trabalhar sozinha a Natalina quando vier me dá uma ajuda no que eu precisar, isto é, se eu precisar...
Quando estiver cansada paro com tudo e vou me distrair tocando piano...
Por onde andará a Elizabete ?
Que Deus a jude a encontrar logo um emprego.
 
 
 
 M.H.P.M.