A condição
Chegou uma hora que, olhando a vastidão do mar, me desesperei: onde isso acaba?
Inútil, ninguém respondeu. No barco estava somente eu. Até minha sombra parecia ter sumido. Estava só. O desespero aumentou: para onde vou?
Me imaginei eternamente perdido, eternamente á deriva até o momento em que ficaria louco, desidratado ou comido por tubarões. Ou ainda, as três coisas ao mesmo tempo.
Foram horas aflitas. Muitas horas. Meus olhos se perdiam no mar, minha cabeça se perdia naquele barco. Mas o tempo passou. Eu percebi então que poderia navegar esse barco. A direção, no entanto, não sabia, mas poderia tentar achar uma. O jeito era improvisar. Começar a remar até achar algum vestígio de terra no horizonte.
O tempo me acostumou com a idéia. O desespero havia sumido, mas vez ou outra ele me visita. No entanto, o mar e estar sozinho não me assustam mais. Ao invés de pensar nisso, penso: eu não estou sozinho, estou comigo mesmo e não estou no mar, estou no meu barco. Continuo a remar. Algumas vezes parece que consigo enxergar a costa, mas ela some. Não sei se é uma miragem. Pode ser uma lição também. De qualquer maneira, continuou a remar. Há dias ruins, mas há dias bons também. Não reclamo... muito. Afinal, é a vida.
E tem sido assim.