36 . À espera de entrar na casa de Claude Monet
Devo dizer que estou a escrever directamente para o bloco de notas.
A fila é enorme.
Já mandei mensagens para os meus filhos: bons dias.
Até agora não obtive resposta.
Estarão por certo ainda a dormir. A Filipa deve ter trabalhado até tarde. Faz uns biscates no Alabote para ganhar uns trocos. Vou desligar. Relaxar.
À minha frente, um grupo de estudantes americanos, o sotaque é inconfundível, e até sei dizer que são de Boston, morei lá perto, ainda não me esqueci disso, com adultos, parecem ser professores, um fala de arte, outro come um gelado, outro tira fotografia ao colega, e conversam como os americanos gostam de fazer: em alto e em bom som.
Atrás, um grupo de gente de meia-idade, falam alemão, mas que responde em francês quando alguém fora da fila pergunta a um deles qualquer coisa. São mais calmos.
Esperamos todos. A fila não anda. Estamos todos voltados na direcção da porta de entrada uns bons metros mais à frente. São vinte para as três da tarde. O dia está fresco. A fila está no lado da sombra.
A fila andou dois ou três metros e parou de novo.
Uma mensagem dos Açores. Vou ler.
Péssima. Que se passará?
Forças, tens que ser forte: alguma má notícia? A fila move-se de novo. Mais uns dois metros.
Eu aguento mais isto.
Filho? Mensagem da Filipa, finalmente, a reclamar o erro. Troquei o sexo.
Graças a Deus, está bem. Como foi o trabalho ontem? Bom. E tu como vais? Estou numa fila para entrar na casa do Monet há tempos.
Um beijo do pai para ti e para o teu irmão.
Há quanto tempo estão aqui? Perguntam em francês á senhora atrás de mim que fala alemã mas que responde em francês: uma meia hora talvez três quartos de hora.
Andou mais um pouco, abeirei-me da bilheteira: quantos? Um.
Nacionalidade: Portuguesa. São seis euros.
Entrei.