Um caso de amor

Foi amor à primeira vista!

Meados de abril. O ônibus em que eu embarcara, na véspera, já ganhava terras gaúchas. Devido às minhas frequentes idas e vindas de trabalho entre Porto Alegre e São Paulo, já estava habituada às curvas da estrada e era capaz de identificar os trechos mais marcantes. Mas, recém-chegada ao Rio Grande do Sul,.ainda não me acostumara tanto à paisagem, a ponto de perder tempo em cochilar. Queria absorver com os olhos cada detalhe daquela paisagem nova para meus olhos.

A um certo ponto, já começando a descer a serra, o deslumbramento! De um lado e do outro da estrada - nas árvores que depois me disseram ser plátanos - uma explosão de cores! Do verde esmaecido ao amarelo claro, ao dourado, ao laranja, ao vermelho intenso, e até preto! Um espetáculo cuja beleza me atordoava! Senti vontade de aplaudir, de gritar, de cantar de alegria. Finalmente, eu me via dentro do Outono, que até então não passara de um termo abstrato para mim.

Olhei para o passageiro a meu lado: dormia tranquilo. Tive vontade de acordá-lo, para que não perdesse o momento, mas me contive, desconfiando que poderia se aborrecer com tal intromissão... Sem desviar de todo os olhos da paisagem, arrisquei uma olhada para os lugares mais próximos do meu. Todo mundo em silêncio, sossegado, nenhum sinal de emoção. Um se entretinha em fazer palavras cruzadas. Outro lia o jornal. Duas crianças, no banco à frente do que seus pais ocupavam, se divertiam com um joguinho, enquanto a mãe folheava uma revista e o pai dormia a sono solto. Será que só eu estava vendo aquele show da natureza?

Então caiu a ficha. Todos os demais passageiros eram gente da terra, habituados desde sempre a ver o que era absolutamente novo e incomparavelmente deslumbrante para meus olhos mineiros. Claro, certamente eles deviam achar bonita a sinfonia de cores das folhas de plátano e o tapete que se abria para a passagem triunfal do ônibus. Mas para eles era tão normal ver aquilo, que não precisavam deixar de fazer coisas mais interessantes durante aquelas horas de uma viagem longa.

Falei com quem podia me ouvir e entender meu sentimento: rezei, agradecendo a Deus, cuja Beleza infinita se revelava assim, de forma tão esplêndida, sem se importar com a indiferença de quem achava aquilo a coisa mais natural do mundo.

Algum tempo depois, fui morar na Europa e pude ver muitas outras paisagens de outono, até mais coloridas do que as da serra gaúcha. Mas, nenhuma conseguiu me empolgar tanto como aquela que ficou para sempre na minha retina como meu primeiro encontro de amor com o Outono!

Laura Chilena
Enviado por Laura Chilena em 03/03/2011
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