Escrever e ler: a velha questão
É sempre desafiador pensar na relação de um escritor ou escritora com seus leitores. Eu, por exemplo, mentiria se dissesse que não me considero nem um pouco escritora; sou, pelo menos, aprendiz. Além do mais, só eu sei quanto trabalho e seriedade se escondem por trás deste hobby. Claro que, como outros, já me perguntei várias vezes por que escrevo, e descobri que não é pelos leitores, não em primeiro lugar. Uns dizem que apenas escrevem e nunca se perguntam o porquê. De fato, não duvido: cada um é cada um. Ainda que seja clichê esse pensamento, ninguém jamais conseguirá arrancar dele a verdade que traduz. Pois bem, hoje de manhã, li uma crônica da Zélia Maria Freire que colocava exatamente esta questão: o tipo de escritor(a) que alguém deseja ser. Pensando no meu caso, por temer qualquer tipo de dependência, sou (pelo menos tento ser) muito cuidadosa neste quesito. Não diria que é medo, mas há um risco colossal de um autor deixar que sua escrita e idéias sofram influencia ou sejam manipuladas pela opinião de seu público, caindo muito facilmente na armadilha de querer agradar e acabar traindo a si mesmo. Não, não vivo nem penso em viver da venda dos meus escritos — falando sério: ainda não me convenci de que tenho real talento para isto. Cada dia que passa, mais me convenço de que escrever por fama ou dinheiro só acabaria com meus ideais, mataria a alma da minha escrita. Prefiro me ver como alguém que trabalha para poder escrever livremente e se apaixona cada dia mais pela Literatura, pela ilusão de poder que o domínio da palavra parece dar. Talvez eu escreva, ainda, só porque tenho histórias pra contar — no dia em que acabar o estoque, encontro outra coisa pra me entreter. E não que eu queira mudar as pessoas ou o mundo, isso não; talvez apenas a mim mesma e, no mínimo, deixar registro de quem fui — ou de como me senti em certos momentos — para as futuras gerações, ou para quem minhas ‘letripulias’ possam vir interessar.
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