As duas faces do bem

Já dizia um amigo, há muitos anos, que há bens que vêm para mal.

Por ter vivido a infância, adolescência e juventude sem concessões, tendo que desde cedo, trabalhar para ajudar no sustento da família, aprendi a ser perseverante, lutar para atingir meus objetivos. Não fui dada a queixumes. De nada teriam ajudado.

Mas, o fato de não ter recebido regalias, de ter tido que me superar, muitas vezes, teve também o lado ruim.

É muito acentuado meu lado intransigente e intolerante, com as fraquezas alheias. Não costumo vê-las com um olhar benevolente. Esqueço que nem todos são forjados no mesmo campo de luta e que mesmo o sendo, cada indivíduo é único, reagindo de maneiras diferentes ante as dificuldades e tristezas que forem encontrando pelo caminho.

Impacientam-me pessoas que ficam se lamentando a todo instante, sobre tudo, chamando a atenção constantemente sobre suas “ tristes vidas”, sobre suas dores mas não fazem absolutamente nada para mudar alguma coisa. Comprazem-se. Pensam até serem abnegadas, resignadas, quando na verdade, tornam-se verdadeiras chatas.

Quem se resigna, quem aceita, se aquieta. Não aproveita toda e qualquer oportunidade para dar vazão aos seus queixumes, “ai como eu sofro”.

E eu me recrimino, pois não tenho o direito de julgá-las, como não gostaria que me julgassem, justamente por esses meus conceitos. (04/11/2006)