OS TRENS DA MINHA INFÂNCIA
Os trens da minha infância eram o meio de transporte mais utilizado da época. Cortavam as distâncias do meu Rio Grande, embelezando o bucolismo da paisagem interiorana. O horário de sua passagem nas pequenas cidades se transformava em atração e embalava as esperanças das mocinhas sonhadoras. As vezes um moço bonito abanava disfarçadamente, fazendo pulsar o coração da jovem. Era no rápido instante em que o trem parava na estação que as pessoas adquiriam revistas, como a "O Cruzeiro", e as deliciosas maçãs argentinas.
Os trens da minha infância apitavam nas curvas e largavam fumaça pela chaminé. Eram as "Maria Fumaça" que, por muito tempo, transportaram pessoas, mercadorias e sonhos. Fazendo a ponte entre as cidades, numa baixa velocidade, as vezes atrasavam uma, duas horas, paravam no meio do nada... Mas tinham um romantismo incrível! A gente caminhava de um vagão para outro, sentava no restaurante, paquerava. Sem sentir que as horas eram intermináveis... Uma noite inteira para ir de Santa Maria a Porto Alegre! Doze horas ou mais para ir até Uruguaiana e fazer compras em Libres, na Argentina!
As "Maria Fumaça" da minha infância foram substituídas pelas máquinas a Diesel, tornaram-se mais velozes, mas não perderam o encantamento. Mas, com o tempo, nós perdemos os trens... Não davam lucros, o petróleo precisava ser vendido em grande quantidade, os governos desativaram os trens e entraram de cabeça na nova ordem econômica mundial. Como sempre, o dinheiro falou mais alto, a população perdeu um meio de transporte barato e os trens da minha infância se perderam nos trilhos da saudade.