QUERO IR A MACHU PICCHU

QUERO IR A MACHU PICCHU

O senhor Deolindo dirigiu-se até uma conceituada agência de viagens porque desejava comprar um pacote turístico em comemoração a seu aniversário de casamento.

- Então, para qual lugar você me recomenda fazer uma viagem?

- O senhor e sua esposa devem adquirir nosso pacote de uma semana a Machu Picchu, pois tem sido o destino turístico mais procurado por nossos clientes. Até o megamilionário Bill Gates já viajou para lá - respondeu-lhe o agente de viagens.

-Se todos querem ir para lá, se é moda, eu também quero conhecer esse lugar. O que inclui nesse pacote?

- Vocês realizarão um city tour cuja atração turística faz parte do Patrimônio da Humanidade, estando à altura das pirâmides do Egito. Trata-se de uma cidade pré-colombiana levantada principalmente em meados do séc. XV, construída com grandes blocos graníticos unidos sem argamassa. Suas peculiares características arquitetônicas fazem com que este santuário revele os mistérios da civilização Inca.

- Você fala bem bonito, moço. Mas você não poderia fazer um resumo disso tudo que você acabou de me explicar?

- Posso sim. O senhor e sua esposa caminharão por três dias o que nunca andaram a vida inteira, subirão um monte de degraus e tirarão fotos de umas ruínas. Mas o quarto dia será muito interessante! O city tour incluirá levá-los a região mais alta dos Andes peruanos, onde habita uma população indígena dedicada a agricultura, pastoreio e artesanato. Vocês poderão apreciar mulheres vestidas tipicamente com seus vestidos, mantas e chapéus. Também conhecerão a alpaca e a lhama, animais típicos das regiões andinas.

- Interessante. E fazendo um resumo?

- O senhor e sua esposa vão tirar fotografias junto a um montão de gente que fala um espanhol misturado com outra língua ao lado de um bicho que parece um camelo. Mas o último dia também lhe reservará uma surpresa! Vocês realizarão um city tour em algumas cidadezinhas e poderão apreciar a beleza das casas construídas com ladrilhos artesanalmente secados ao sol, compostos por uma mescla de argila, areia e palha.

- Interessante. E...resumindo?

- O senhor e sua esposa poderão tirar umas fotografias de umas casas de adobe de gente bem pobre. Mas como são diferentes das nossas favelas, vocês vão gostar!

O Sr. Deolindo voltou a casa bem satisfeito. Nem se lembrou que sua empregada doméstica era uma imigrante peruana. Ele a contratou com o nome de Carla, mas na verdade a moça se chama Yanay. Ela decidiu mudar seu nome, seus costumes, suas vestimentas e seu modo de falar para não sofrer discriminação por ser de uma etnia indígena. Para Yanay, Machu Picchu é um solo sagrado, terra de seus antepassados, de um povo campesino que sofre pela poucas políticas de integração idiomática e cuja taxa de analfabetismo é vergonhosa. Sua família depende do artesanato, da lã, da carne e do leite da lhama como recursos naturais de sobrevivência e como única saída a sua condição de pobreza extrema. Mas Yanay tem muito respeito e orgulho por suas origens, pela genética dessa raça forte, pelo seu dialeto quechua, e se sente muito constrangida quando determinados grupos de turistas tratam seu povo e sua terra como se fossem atrações circenses.

- Senhor narrador, não dá para fazer um resumo?

- Dá sim. Yanay é mais uma dessas pessoas que engrossam as estatísticas de cidadãos, que se veem empurrados a abandonar suas terras emigrando a outros lados, em busca do alimento para seus filhos.

NOTA: Durante uma caminhada numas das trilhas de Machu Picchu, um grupo de turistas viu-se afligido por uma avalancha de pedras que começaram a cair do alto das montanhas. Eles ficaram sem alternativas, nem podiam voltar para trás nem seguir adiante. Os dois guias turísticos, cidadãos peruanos, em nenhum momento sentiram algum tipo de preocupação, caminhavam lentamente como se nada estivesse acontecendo. Somente quando eles dois passavam, as pedras sem nenhuma explicação lógica, deixavam de cair do despenhadeiro. Uma cidadã estrangeira gravou com seu celular.

Millarray
Enviado por Millarray em 02/03/2011
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