O VISIONÁRIO
Comecei a escrever esta estória para ele, o visionário, que vê além e após, depois de tudo, o que aconteceu, só ele sabe.
Depois que começou durou quase um século, ou quase meio, assim dividido, entre a chegada e a partida, a entrada e a saída, sem recaída, sem visões, por enquanto.
Além e após, ele desapareceu, o visionário, o que, sem pestanejar, nem deixou o paradeiro, nem rastro, nem digitais, nem na rede social, não estava, nunca esteve.
Fiquei socando o ar, esmurrando, ou era ele, o visionário, perguntei. Eu apenas respondia as perguntas, frenéticas, aceleradas, nem ouvia direito, nem esquerdo, nem nada.
Quem vive em outros mundos, como pode, me explica, não explica, desaparecer deste, de novo perguntei.
Eram todos iguais, eles, os mundos, os visionários.
De tanto socar o ar, esmurrar, saciei-me, me atrevi, entreti, desaparecendo. Neste mundo incendiado, tão vasto como a imaginação, eu nem me escutava mais, nem menos, apenas escrevia, sistemático.
Comecei a ver, visionário, visões, coloridas, como se eu estivesse muito vivo, apocalípticas, alucinógenas, nem sabia, apenas escrevia.