A revolta da chibata (1910)
Por: David kooperfield
Os trabalhadores da Marinha do Brasil no início do século XX levavam uma vida difícil de privação, baixos salários, jornada de trabalho extenuante e até maus-tratos. Estes se estendiam a castigos corporais PR descumprimento de alguma norma do regulamento, ou por simplesmente estar o comandante naquele dia de mau humor, seja por ter brigado com a mulher, seja por algum motivo que ele próprio desconhecia. Ou seja nem sempre os marinheiros sabiam o porque. Como ainda hoje o povo apanha mas nem sempre ou nunca mesmo sabem o maldito do porque.
Mas olha só que absurdo, esta penalidade havia sido banida na proclamação da república brasileira, (esta que se vangloriava e se dizia progressistas aos moldes das potencias da época). Mas na prática continuava a vigorar na frota de guerra do Brasil. (sabe aquela coisa de que no Brasil as vez a lei não pega).
Mas vamos analisar melhor a estrutura social da Marinha. Era composta na sua maioria por negros, mestiços recrutados entre órfãos, condenados ou pressionados pela família a ingressar no serviço militar em virtude das condições precárias de vida além de criminosos e ladrões. Enfim, era composta por uma parcela marginalizada que na visão dos governantes e da “sociedade” deveriam mesmo ser tratados a ferro e fogo.
Cansados daquela situação, a burguesia explora, explora e explora mas sem nunca perder o receio, porque o pobre agüente, agüenta, agüenta, mais um dia estoura. Foi o que aconteceu. Em meio a essa onda de insatisfação Marcelino Rodrigues do “Minas Gerais’ foi condenado a cota magra de 250 açoites, nem cristo, foi o estopim.
Em 1910 os marinheiros liderados por João Candido Felisberto de pseudônimo ‘Almirante Negro?”dos encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo” revoltaram-se no Rio de Janeiro, onde reivindicavam melhores salários, folgas semanais e o fim dos castigos corporais.
As massas mais humildes e desprovidas do poder de argumentação inteligente, flexível quando tem que ser, desinteressada quando for o caso, acaba por radicalizar. Foi o que fizeram os marinheiros e anunciaram ao presidente da república (se vamos apelar a alguém que seja ao dono do chiqueiro, ou melhor da esquadra): se não formos atendidos iremos bombardear a ninguém mais, ninguém menos que capital da república, a bela Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa.
O movimento sensibilizou os nobres deputados de oposição que se pronunciaram em favor dos oprimidos, (como sempre ocorre no Brasil, eles aproveitam logo da situação para se promoverem em defesa dos necessitados),
O governo cedeu a pressão e atendeu as exigências dos marinheiros e o congresso votou o fim dos castigos corporais e anistiou os participantes da revolta. Que só entregaram as armas depois de publicado no Diário Oficial todos os acordos firmados.
Entretanto, depois do final da rebelião o governo descumpriu a garantia de anistia e passou a perseguir e prender os marujos. Um levante na ilha das Cobras foi o que o governo precisava para atacar a ilha com o exercito e esmagar os rebeldes sem piedade. Os poucos sobreviventes foram deportados para a Amazônia para trabalhos forçados nos seringais (escravidão na república?). Vou te contar um segredo, não contas pra ninguém, durante o trajeto foi ordenado o fuzilamento de nove indivíduos. O almirante negro sobreviveu e foi internado em um hospital destinado a doentes mentias (como loucos , é assim que o governo e sua elite trata todos aqueles que se rebelam e o questionam?) João Candido foi julgado em 1912 e foi inocentado, morreu na miséria de tuberculose no final da década de 1960 vendendo peixe na praia.