Nos olhos de fogo refletem meus dedos.

Ela chega tarde, caindo suavemente como notas de uma elegia infantil cantada pela boca de um doente em estado terminal. Os gritos ecoam pelas paredes das nuvens, o céu perde sua cor na barriga do animal que devora outro animal, enquanto a vida se espalha por todos os caminhos. Delicadamente sua dor bate a minha porta procurando uma solução para o fim de suas desilusões silenciosas, mas a chave que abre os caminhos esta guardado no fundo de minha escuridão e permanece esquecida enquanto me afundo como um cadáver na sepultura de minha auto destruição edificadora de inimigos. As sombras passam através da fumaça e deus se revela na madrugada, vigiando minha insonia e fazendo uma cara de decepcionado para seu filho mais querido no exato momento em que condeno minha alma e uma brasa ilumina o quarto em silêncio. Sinto meu cérebro tentando fugir através do travesseiro, meus dentes se transformando em presas para devorar fetos abortados e o sangue queimando em meu corpo, correndo pelas veias como atletas exaustos rumo ao fim de todas as coisas. Depois de tudo o dia começa como um colapso global, um corpo em letargia que se perde na hora do café e acorda olhando para a sua manhã através do passado, remoto, distante, inerte como uma ressaca devastadora, ou um foda exaustante que lança um sorriso no teto, um cigarro entre os dedos e faz um beijo flutuar no ar até encontrar o repouso adequado. Abrigo meus desejos nos últimos pensamentos, na curva inclinada que tomba os caminhos para um vale encantado, nas cores que se formam no fogo da noite, nas imagens distorcidas dos meus olhos entendiados, na natureza lúbrica de uma prostituta na esquina, no grito inocente da criança machucada pela brincadeira imprudente, em todo lugar onde o desespero e a esperança se entrelaçam ao tapas para tomar conta de um futuro misterioso que passa através dos passos como uma poeria insignificante que se desfaz com o sopro de um moribundo. É muito estranho ter só água para beber, assim como o predador se cansar da presa, são coisas que não encontram sentido em uma noite solitariamente cômica, em que espalho sorrisos para todas as coisas que dividem comigo a solidão desta noite ... cômica.