Horror e glória de um time azul e branco

HORROR E GLÓRIA DE UM TIME AZUL E BRANCO

(crônica publicada na "Revista do Avaí" nº 10, dezembro de 2010)

Foi um jogo eletrizante, aquele último na Ressacada, contra o Santos. Precisando ganhar, focado em ganhar e jogando melhor, de repente lá estava o horror de um resultado parcial adverso de 2 a 0. Só isso, 2 a 0, e então seriam necessários três gols - mas a torcida, alucinada, acreditava que era possível. Lotou o estádio e não parava de aplaudir, de gritar e de incentivar o time - contra todas as evidências (se futebol tivesse lógica). Na arquibancada, ali ao lado, o Márcio declarou: "Vou embora! Agora não tem mais jeito, vamos levar uma goleada vexaminosa!". Mas não foi, claro, e nem falou alto essas palavras. Talvez não acreditasse no que ele próprio dizia.

Golaço deveria valer o dobro.

De repente, aparece um Caio, o incansável (como em todo o ano, como em todos os jogos), dribla um, dribla outro, e a gente ali, esperando ele ser desarmado ou atropelado, e vai driblando meio time do Santos até fuzilar inapelavelmente. O primeiro tinha entrado, e já deveria ser o empate, pelo que o Avaí vinha jogando e pelo golaço que foi, um primor. E então, antes ainda do intervalo, vem um Caio, incansável sempre, e carimba de novo.

O segundo tempo foi apenas uma questão de tempo: ninguém mais tinha dúvida, nem mesmo o técnico do Santos, nem mesmo todos os jogadores do Santos, de que a virada iria coroar a Ressacada de estupefação. Só ninguém desconfiava é que a glória levaria a assinatura daquele endiabrado número 10, o incansável Caio, com novo golaço: 6 a 2 para o Avaí, mas que o árbitro só contou 3 a 2, e a garantia matemática de permanência na Série A de 2011. Ao lado, o Márcio derramava lágrimas de paixão azul e branca.

O jogo contra o Santos, o último do ano na Ressacada, foi um retrato da campanha do Avaí no Brasileirão 2010: após iniciar o campeonato em primeiro lugar isolado (só outras três equipes estiveram na ponta da tabela ao longo das 38 rodadas), escorregou para 13º, subiu de maneira fulminante ao terceiro e, em 10 misteriosas partidas em que o time não ganhou uma e jogou muito mal, atingiu o horror da zona de rebaixamento. Com três vitórias seguidas no finalzinho, nas quais marcou 9 vezes (3 gols em cada jogo, um despropósito para um time que penava para fazer um golzinho aqui, outro ali), atingiu a glória de não cair.

Cá entre nós: uma glória modesta demais para o nosso time azul e branco. No entanto, como o Fluminense por pouquíssimo não caiu em 2009 e sagrou-se campeão em 2010...

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Amilcar Neves é avaiano e escritor de crônicas, contos e romances, com oito livros publicados.