51 anos
Em minha infância imaginava que completar 51 anos estava temporalmente muito distante.
Aos dezoito anos imaginava que chegar aos 51 anos de vida implicaria em um ser humano com vasta experiência de vida.
Aos 25 anos, quando já buscava algum conhecimento mais completo e verdadeiro da vida e da realidade que nos cerca, como um todo, imaginava os 51 anos como uma idade que já implicaria em um saber banhado à experiência. Um pouco antes dos 25 anos já havia trocado o teísmo pelo deísmo.
Aos 30 anos, quando iniciava meu caminhar pelo materialismo científico, e abandonava então o deísmo, buscava já a racionalidade como princípio, só que de forma ainda muito acrítica e dogmática. Olhava para os 51 anos como um paraíso do racionalismo.
Aos 35 anos, percebia que o racionalismo, por si só não poderia responder a tudo, e que assim não poderia ser levado à ponta de faca. Desta forma me sentia um tanto frustrado pela decepção de que o racionalismo, ainda visto por mim como algo dogmático, poderia ser facilmente vencido pelas mesmas armas que defendia. Inescrupulosos interlocutores, que maquiando a comunicação livre, desviasse a mesma para falaciosas colocações, que a levassem ao estremo das causas, deixaria o racional acrítico em maus lençóis posto que não temos explicação racional para todas as causas, principalmente quando retornamos recursivamente as causas das causas. Para alguns não importa a verdade, importa parecer verdadeiro desde que apóie suas crenças e suas necessidades. Vivi então alguns momentos de dúvidas quanto a escolha pelo realismo e não pelo empirismo que me parecia um tanto superficial. Olhava o futuro não necessariamente como uma boa idéia, mas como uma idade em que esta dúvida teria ou não sido resolvida.
Por volta dos 40 anos conheci Carl Popper, e com ele abriu-se a cortina da dúvida, o véu embaçado do racionalismo acrítico e dogmático seria superado pela simples e direta condição de abrir mão de qualquer dogmatismo, e da posição acrítica, incluindo no meu raciocínio e em minha proposição de viver, o racional crítico. Ser racional acima de tudo, até onde for possível evidenciar o realismo, e onde não mais for possível evidenciá-lo, abrir mão de todo e qualquer empirismo teórico por um racionalismo crítico, onde o realismo deveria ser buscado sempre. Onde não mais couberem evidências, que me utilize do poder da crítica científica para selecionar o provável, mas dentro da certeza que além do provável existirá sempre o real. O brilho do mundo voltou. Alguma dúvida por uma postura agnóstica foi removida.
Meus filhos nesta época tinham cerca de 8 anos e eram, como ainda o são, o brilho maior de minha vida. Pude pela primeira vez, removida toda a dúvida anterior, tornar-me integralmente um materialista científico e racional crítico. Entendo por experiência própria que um me levou ao outro e vice e versa, reforçando-se mutuamente.
Com Bertrand Russel e Richard Dawkins reforçou-se em mim a repulsa por qualquer catequese infantil, seja ela a favor ou contrária as religiões. Entendi que nenhuma criança nasce cristã ou nasce ateísta, elas são movidas pela força cultural que as cerca, e em especial pela capacidade de indução de suas famílias a escolherem o que seguirem. A escolha praticamente nunca ocorre por conta própria da criança. Uma criança no Brasil tem a forte tendência a seguir uma filosofia cristã, uma criança no Irã terá forte tendência a seguir o alcorão, uma criança judia terá forte tendência a seguir o princípio de vida do judaísmo, uma criança indiana seguirá com forte tendência o hinduísmo ou o budismo. Assim foquei o preparo humano e intelectual de meus filhos no reconhecimento de alguma verdade, no amor ao próximo, na busca de uma dignificação do social e na sincera e desapegada busca da verdade através de uma racionalidade crítica. Quanto a uma possível religiosidade, mesmo sendo ateu, não forcei nenhum tipo de doutrinação. Como já comentado, uma vez que não nasci cristão e nem ateu, sendo o conhecimento da vida que me levou a ser materialista científico e realista e desta forma ateu, caberia ao futuro permitir que meus filhos, baseado em seus conhecimentos e valores de verdades, fizessem suas escolhas.
Aos 45 anos, já olhava os 51 com a descrença de ser alguma idade especial.
Aos 50 tinha alguma certeza que o saber independe de idade, e que sua busca será eterna, uma vez que jamais veremos em profundidade toda a verdade, não que ela não exista, é claro para mim que ela existe, mas nossos sensores e nosso poder de processamento mental são imperfeitos e por isto estaremos sempre a caça de uma verdade maior. Cada nova descoberta nos leva a desejar outras descobertas, e assim vivemos nossa eternidade presente prospectando sempre novas verdades.
Hoje com 51 anos, descubro que sei muito pouco do que pelo menos gostaria de saber. Mas a vida é assim. Mantenho o foco na minha busca pelas verdades físicas, biológicas, mentais e sociais, sem abrir mão de alguma racionalidade crítica, no desafiante objetivo de elevar a dignidade humana acima do abandono que hoje impera para uma multidão de desafortunados da sorte.
OBS: A melhor imagem que me lembro a cerca do conhecimento, é que o conhecimento é como uma clareira em plena floresta densa do desconhecido. Quanto mais sei, maior é a clareira do conhecimento, e diretamente maior é a área de interface com o desconhecido.
Em minha infância imaginava que completar 51 anos estava temporalmente muito distante.
Aos dezoito anos imaginava que chegar aos 51 anos de vida implicaria em um ser humano com vasta experiência de vida.
Aos 25 anos, quando já buscava algum conhecimento mais completo e verdadeiro da vida e da realidade que nos cerca, como um todo, imaginava os 51 anos como uma idade que já implicaria em um saber banhado à experiência. Um pouco antes dos 25 anos já havia trocado o teísmo pelo deísmo.
Aos 30 anos, quando iniciava meu caminhar pelo materialismo científico, e abandonava então o deísmo, buscava já a racionalidade como princípio, só que de forma ainda muito acrítica e dogmática. Olhava para os 51 anos como um paraíso do racionalismo.
Aos 35 anos, percebia que o racionalismo, por si só não poderia responder a tudo, e que assim não poderia ser levado à ponta de faca. Desta forma me sentia um tanto frustrado pela decepção de que o racionalismo, ainda visto por mim como algo dogmático, poderia ser facilmente vencido pelas mesmas armas que defendia. Inescrupulosos interlocutores, que maquiando a comunicação livre, desviasse a mesma para falaciosas colocações, que a levassem ao estremo das causas, deixaria o racional acrítico em maus lençóis posto que não temos explicação racional para todas as causas, principalmente quando retornamos recursivamente as causas das causas. Para alguns não importa a verdade, importa parecer verdadeiro desde que apóie suas crenças e suas necessidades. Vivi então alguns momentos de dúvidas quanto a escolha pelo realismo e não pelo empirismo que me parecia um tanto superficial. Olhava o futuro não necessariamente como uma boa idéia, mas como uma idade em que esta dúvida teria ou não sido resolvida.
Por volta dos 40 anos conheci Carl Popper, e com ele abriu-se a cortina da dúvida, o véu embaçado do racionalismo acrítico e dogmático seria superado pela simples e direta condição de abrir mão de qualquer dogmatismo, e da posição acrítica, incluindo no meu raciocínio e em minha proposição de viver, o racional crítico. Ser racional acima de tudo, até onde for possível evidenciar o realismo, e onde não mais for possível evidenciá-lo, abrir mão de todo e qualquer empirismo teórico por um racionalismo crítico, onde o realismo deveria ser buscado sempre. Onde não mais couberem evidências, que me utilize do poder da crítica científica para selecionar o provável, mas dentro da certeza que além do provável existirá sempre o real. O brilho do mundo voltou. Alguma dúvida por uma postura agnóstica foi removida.
Meus filhos nesta época tinham cerca de 8 anos e eram, como ainda o são, o brilho maior de minha vida. Pude pela primeira vez, removida toda a dúvida anterior, tornar-me integralmente um materialista científico e racional crítico. Entendo por experiência própria que um me levou ao outro e vice e versa, reforçando-se mutuamente.
Com Bertrand Russel e Richard Dawkins reforçou-se em mim a repulsa por qualquer catequese infantil, seja ela a favor ou contrária as religiões. Entendi que nenhuma criança nasce cristã ou nasce ateísta, elas são movidas pela força cultural que as cerca, e em especial pela capacidade de indução de suas famílias a escolherem o que seguirem. A escolha praticamente nunca ocorre por conta própria da criança. Uma criança no Brasil tem a forte tendência a seguir uma filosofia cristã, uma criança no Irã terá forte tendência a seguir o alcorão, uma criança judia terá forte tendência a seguir o princípio de vida do judaísmo, uma criança indiana seguirá com forte tendência o hinduísmo ou o budismo. Assim foquei o preparo humano e intelectual de meus filhos no reconhecimento de alguma verdade, no amor ao próximo, na busca de uma dignificação do social e na sincera e desapegada busca da verdade através de uma racionalidade crítica. Quanto a uma possível religiosidade, mesmo sendo ateu, não forcei nenhum tipo de doutrinação. Como já comentado, uma vez que não nasci cristão e nem ateu, sendo o conhecimento da vida que me levou a ser materialista científico e realista e desta forma ateu, caberia ao futuro permitir que meus filhos, baseado em seus conhecimentos e valores de verdades, fizessem suas escolhas.
Aos 45 anos, já olhava os 51 com a descrença de ser alguma idade especial.
Aos 50 tinha alguma certeza que o saber independe de idade, e que sua busca será eterna, uma vez que jamais veremos em profundidade toda a verdade, não que ela não exista, é claro para mim que ela existe, mas nossos sensores e nosso poder de processamento mental são imperfeitos e por isto estaremos sempre a caça de uma verdade maior. Cada nova descoberta nos leva a desejar outras descobertas, e assim vivemos nossa eternidade presente prospectando sempre novas verdades.
Hoje com 51 anos, descubro que sei muito pouco do que pelo menos gostaria de saber. Mas a vida é assim. Mantenho o foco na minha busca pelas verdades físicas, biológicas, mentais e sociais, sem abrir mão de alguma racionalidade crítica, no desafiante objetivo de elevar a dignidade humana acima do abandono que hoje impera para uma multidão de desafortunados da sorte.
OBS: A melhor imagem que me lembro a cerca do conhecimento, é que o conhecimento é como uma clareira em plena floresta densa do desconhecido. Quanto mais sei, maior é a clareira do conhecimento, e diretamente maior é a área de interface com o desconhecido.