A sociedade dos poetas vivos
[Publicada no caderno Mulher Interativa - Jornal Agora/RS - Fev/2011]
Escritores são como gremlings. Deixe-os ver TV pós-meia-noite e eles crescem – ou imaginam que sim – e se multiplicam. Ensandecidos por uma loucura controlada, crescem e encolhem-se, todos modelados, prensados sob a mesma influência, antes de vidro – hoje feitos de plasma – escrevem feito plastas, pensam feito poias. Um tédio!
São tantas as novidades mais velhas do que terra... tanto “eu já vi algo assim”, exceto que alguns são tão desprovidos de talento que nem a receita eles reproduzem direito. Pior que carecer de autenticidade é ser uma cópia ruim. Mas, sejamos justos, para cada geração fica mais difícil manter a forma – a massificação de renovadas ferramentas se torna cada vez mais eficiente em seu propósito.
E os aparelhos vendem cada vez mais. Sejam para assistir, ou ouvir, ou falar, ou até mesmo ler! E eu me pergunto – enquanto escrevo num bloquinho de papel – pra quê? Longe de mim ser moralista ou retrógrada. Entendo, e faço uso, da utilidade da tecnologia – os gadgets até que são bonitinhos, mas aprecio demais o tempo incerto que a vida oferece para desperdiça-lo com eles. E não me venha com aquele papo de “a tecnologia colabora com a velocidade da vida moderna”. Só se for para acelerá-la, no mau sentido. Com a internet, por exemplo, perde-se dez vezes mais tempo navegando à deriva do que aquele que se economiza no buraco-de-minhoca que o cyberespaço representa.
Grande espaço do meu desperdício vem da leitura de baboseiras que poluem sites ditos literários. É tanta auto-publicação, tanta puxação de saco, tanta lenga-lenga pseudo-best-loaded que dá vontade de correr ao sebo mais próximo em busca do mais roído dos livros que um punhado de reais pode comprar.
Vez ou outra, recebo um email dizendo “Leia isso e me dê sua opinião” e, na maioria das vezes, tudo o que eu penso é “Cool, man! Cool!”. Alguém já disse, muito sabiamente, que os que de fato merecem alcançar o sucesso estão ocupados demais pra se ocupar com isso. Não creio que um desses atingiria mil downloads em uma semana, talvez nem em uma vida. Um pouco antes, alcançaria quando morto. Mas, agora, há um problema: morto não twitta – apesar de eu seguir uns dois ou três fakes do além.
Mas não sejamos generalistas, extremistas, carrancudos. É claro que há, dentre os mais novos escritores da última semana, um ou outro de quem vale a pena devorar cada postagem. Infelizmente, a massa disforme que os rodeia dificulta a descoberta destes. Eu mesma sinto-me um tanto anestesiada, outro tanto fraudulenta, quando muito me deixo absorver, mas logo pego um livro da estante e dele tomo uma injeção daquilo que eu gostaria de chamar de realidade.
E me abstraio da panelinha dessa sociedade de poetas vivos que me afugenta para mergulhar e submergir até afogar-me por completo na confraria dos poetas mortos que me alimenta.