Sabe daqueles dias...

Fui ao banheiro e o bidê estava entupido; tentava escrever alguma coisa e não dava conta; no jogo de damas perdia todas; tentei uma transa e a mulher estava menstruada; o filho mais novo com uma febre daquelas; a campainha tocava e sempre era um cobrador; na quinta tocada de campainha era um oficial de justiça...

Assinei sem rodeios aquele papel onde um juiz me clamava o pagamento da pensão alimentícia que sempre atraso por falta de dimdim. Só aí vi que o pneu do carro estava furado e o estepe também. Tentei acionar um borracheiro através do telefone, mas tinha acabado os créditos; me enchi de coragem, tirei o pneu e o levei no borracheiro mais próximo. De bermuda e sem a carteira só escutei do borracheiro que meu pneu não tinha recurso. Voltei para casa sem pneu e abanando as mãos como se estivesse ficando bichoso, moda televisiva. Quando cheguei em casa o macaco não tinha agüentado o peso e tinha arriado. Meu filho mais velho em cima do velho carro dando belas gargalhadas... Dentro de casa minha mulher também sorria... O que foi? Lê aí, ela dizia. E lá num canal de informação estava escrito: “O STJ, para quem não sabe, Superior Tribunal de Justiça, está infringindo a constituição porque paga seus membros um tanto a mais que foi estipulado por lei."

Me deu uma vontade danada de rasgar aquele papel da pensão alimentícia; me deu vontade mesmo de rasgar meu título de eleitor porque num país que os supostos justiceiros são os primeiros a burlar a lei fica parecendo que nós eleitores somos uns lacaios...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES