Desconfiômetro, eis a questão.
Você se conhece? Tem certeza disso? Sabe o que sente, o que pensa e como age? Sério? Que bom.
A gente se conhece a medida que também somos desconhecidos de nós mesmos e sentimos e deixamos de sentir, pensamos e deixamos de pensar e agimos ao mesmo tempo que paramos e passamos a questionar: Por que será que eu fiz isso? Não deveria ter feito, mas já que fiz, está feito, pronto.
É mesmo assim? Para alguns até pode ser, mas para outros, a situação é bem diferente...
Existe algo dentro de nós que podemos chamar de desconfiômetro e estamos sempre a desconfiar e a nos punir e pensar, veja, novamente o pensamento e o mundo das ideias... O pensamento nos conduz a punição: Por que que fiz? Por que não tentei agir de uma outra maneira... E você volta atrás, pensa e resolve dar uma nova chance, perceber o ato por outro ângulo. É a chance de remissão das nossas culpas, nossas tão dolorosas culpas e até, muitas vezes, nossas prazerosas culpas porque provocam em nós o gozo e o prazer do gozo: poxa, fui capaz de fazer isso mesmo?
"Isso mesmo, isso mesmo", isso mesmo é uma outra questão. Raciocine comigo: Somos humanos e por sermos humanos somos racionais. O fato de sermos humanos e racionais nos dá a patente de sermos seres. A categoria de ser ser, humano e racional diz que somos seres humanos racionais dotados de ser e essência, além de sermos diferentes. Diferentes?
Ora, ora, veja quanta coisa passamos a ser.
Quantas vezes você se interroga perguntanto:Quem sou? E qual inventário consegue fazer de si ao responder tal questão?
Consegue responde?
Você é você mesmo, ora, mas não é você sozinho. Compreende? Fácil, não? Você não consegue ser você mesmo sozinho, você passa a ser você a partir das experiências vivenciais com os outros. Simples, não?
O pior que não é tão simples assim não. Os outros de sua convivência te dão um nome, te ajudam a dar os primeiros passos, articular as primeiras palavras e a sentir as primeiras sensações. Sim, você além de racional é um ser sensitivo, sente. Quando se descobre assim passa a vivenciar e a experimentar os sentimentos: ama ao mesmo tempo que odeia e odeia ao mesmo tempo que ama. Passa então a ser um ser dualístico, compreende? Eu sabia.
A compreensão é fundamental nesse sentido.... com-preender. Mas a gente só compreende aquilo que é estabelecido e para isso eu não posso negar a existência do outro. Compreender é preciso porque a partir dela estabelecemos relaçoes com o cosmo, com o eco-lógico, e nos tornamos comuns, passamos a comungar situações diversas.
Por exemplo: Eu preciso compreender que o nome que eu tenho é meu porque fizeram isso por mim. Se aceito ou não só posso dizer isso a partir do momento que passo a me inventariar. Este nome se torna social, mas só se torna identidade de mim se eu assim o fizer. Nome, por mais próprio que seja, só passa a ser nosso se a compreensão que tenho de mim mesmo assim o fizer, caso contrário, não sou e não é possível me representar a partir do nome que recebo de outros.
Neste momento de compreensão e reinvenção de si, uma outra coisa vai te aflingindo, eu sei bem. Se sabe quem é, então diga, justifique, argumente: O que você é de fato?
Enquanto seres humanos racionais, somos seres dotados de inteligência, somos seres racionais, a soma das nossas experiências sociais, culturais e histórias, mas isso diz tudo ou a partir da compreensão que tenho de mim e do outro posso dizer que sou algo mais?
Se pergunte, exercite esse ato como se fosse uma oficina da invenção de si mesmo. Neste espaço podemos consertar o que provavelmente está quebrado ou construir algo novo. Quem vive deve fazer isso como ação cotidiana. Mergulhar nesse mar de indecisões na busca de possibilidades. Não, não precisa ser respostas imediatas.
A condição de descoberta de saber o que somos exige de nós sermos seres críticos da razão social que construímos a cada instante. É nesse espaço que descobrimos as ideologias que nos norteiam e com elas desenhamos as etnografias de nossas vidas
E por que sou quem sou e o que sou?
Não, você não pode desistir de você mesmo, nunca. Não faça isso. É necessário a compreensão de que somos a força da superação.Somos seres criativos e isso é importante. Temos a capacidade de novas invenções e alternativas.
Veja, o próprio homem já viveu nas cavernas e conseguiu criar a arte rupestre.Foi criativo, deixou sua memória registrada nas paredes em desenhos feitos a partir de sangue de outros animais e pigmentação das folhas das plantas. Aprendeu também a pintar o corpo e a fazer o fogo.
Ao redor das fogueiras aprendeu a contar e passou a contar suas vitórias e derrotas...
É preciso e urgente pensar sobre isso...
Se você já se conhece, sabe muito bem do que eu estou falando. A partir do momento que me percebo ser pensante, de sentimentos e de ações, necessito ser também responsável pelas dores dos outros. Eu não existo sem o outro, não existo e se não existo, preciso ser, além de crítico, criativo, ser cuidante...
A vida cobra isso de nós.
Não, não corra agora tanto, pare, é preciso parar e pensar. Faça a reinvenção de si mesmo. Se perceba e veja o quanto somos úteis um ao outro. Desse jeito poderemos andar, correr contra o tempo e fazer o grande curativo que a vida necessita para começar a curar todas essa dores que nos impedem de viver em conformidade um com o outro como seres cuidadores.