Saudades de mim 12. Escola do "Corgo das Cobras"
Quando mudamos pro sertão, lá no "Corgo das Cobras" perto do sítio de meu avô fomos morar numa casa de pau a pique bem perto do "corgo". Era uma casa pequena e tinha tantos buracos nas paredes que a noite da minha cama eu via o quintal enluarado e o reflexo da lua nos olhos dos gatos e dos cachorros que perambulavam por alí. Tudo alí era muito precário, inclusive a escola que eu e minha irmã começamos a frequentar, pois era só uma sala onde estudavam várias séries e só uma professora que se desdobrava para dar conta do recado. Nosso uniforme era saia pregueada azul marinho e camisa branca e nos pés....nada, todos iam prá escola descalço, calçado era um luxo. Além da sala havia no quintal da escola que era cercado de arame farpado, uma privada de fossa e mais nada. Nem uma cobertura, nem poço e quando tínhamos sede íamos pedir água numa casa que ficava ao lado da escola. Na hora do recreio, como não havia merenda, corríamos prá casa para almoçar e íamos cantando repetidamente; "Dez hora, barriga chora" e na volta "Dez e meia, barriga cheia" e quem vinha de mais longe, muitas vezes à cavalo, trazia marmita e comia na sombra das árvores da beira da estrada ao lado da escola. A professora que morava longe hospedava-se na casa de um sitiante e quando ela ia almoçar, a escola e os alunos ficavam ao "Deus dará", mas ninguém se queixava, pois achávamos um privilégio ter uma escola prá estudar. A todos os lugares que íamos era a pé, até na vila que era bem longe, nos dias de missa e procissão íamos a pé. Todo mundo era magro, adultos e crianças, por isso até então eu nunca havia visto pessoas obesas. A matemática era simples; pouca comida+ muita caminhada= magreza saudável. Agora.......!