O JARDIM.



Naquele jardim, dei meus primeiros passos, e feliz vivi, entre flores, aromas, cores, borboletas e colibris.
Magia e beleza compunham a visão de tão bem cuidado espaço. Lá, inúmeras vezes avistei fadinhas coloridas a voar por sobre as flores e pousar com suavidade sobre as dálias de todas as cores. Algumas vezes com elas conversei, e segredos me sopraram ao pé do ouvido.

De posse de uma caixa de fósforos vazia, corria para meu reino encantado, e aprisionava os insetos que acendiam e apagavam, feito faróis em alto mar. Sem piedade mantinha-os ali, até que a noite chegasse, e feliz os soltava em meu quarto, só para vê-los a tudo iluminar.

Gostava de ver a faina sem fim das abelhas, que em busca do nectar das flores, nelas pousavam e de lá saiam carregadas conduzindo o rico material para suas colmeias. Já as taturanas de cores variadas, trabalhavam avidamente cortando as flores e folhas, deixando a onde estivessem tudo liso e sem vida. Mas, eu, as achava tão engraçadas, com seu rastejar desajeitado, as vezes pisava em uma, e uma gosma nojenta se esparramava sob os meus pés.

Haviam ainda as formigas que disputavam a labuta com as abelhas, como trabalhavam esses seres tão pequenos ! Iam e vinham, carregando um fardo sempre maior que seu próprio corpo, e nunca pareciam se cansar.

Nos galhos da amoreira ficavam os bichos da seda, em seus casulos, trabalhavam e fiavam, e quanto desejei poder tecer uma casinha tão delicada quanto a deles, e morar dentro delas.

Adorava o canto doce dos canários, que pousados sobre os galhos das flores, me diziam o quanto apreciavam minha companhia, e eu tentando imitá-los, assobiava, e depois, ria com prazer.

Para mim, o Universo estava inteiro naquele belo jardim, e passava horas e mais horas do meu dia, a apreciar toda vida que ali existia.

O tempo passou, mas a visão daquele espaço encantado, permaneceu dentro de mim, assim como as fadinhas que ainda hoje, quando uma dor me entristece, com brandura me convidam a passear novamente pelo jardim da minha infância.



Lenapena
Enviado por Lenapena em 27/02/2011
Reeditado em 07/07/2012
Código do texto: T2817917