Serranias de uma bahiana...

No frio tremente deste lugar imortal, deixo o lampejo matutino do orvalho queimar-me a madrugada, e corta o vento uma orelhada, no liquido beijo da tua língua em mim das feijoadas carnudas, gentes entre os brocados lânguidos dos teus abraços.

Assim como tentáculos os teus braços esguios, quase rios ou riachos, ribeiras e ribeirinhas, espelhos d'água imagens refractarias de flores vividificadas: Camélias, Loendros, Bromélias....

Flores berrantes, coloridas, urzes, carquejas...

Rés-do-chão, rente ao cheiro dos míscaros, das giestas, dos tojos, das ginetas e dos teus amassos.

Neste lugar, a beleza é crua e virginal.

O ser virgem também não significa: intocada, invocada; antes pelo contrario.

Ser virgem significa: ter a capacidade de reinventar a cada vez que a estação muda. A cada vez que o beijo encana a aurora; ser virginal é a certeza de que cada estrela apesar de ser sempre a mesma estrela,

no mesmo lugar; apesar de ser sempre a mesma, ela nos dá uma luz sempre diferente a cada noite de brilho.

Como escreve António Lobo Antunes: "São tão raras as mulheres que habitam a cama como um quadro habita uma moldura em que almofadas, lençóis, colchão possuem o exacto tamanho delas, e nós uma vontade humilde de ajoelhar diante de tão miraculosa perfeição".

São tão raras as molduras que comportam na beleza dos teus abraços, tão raros os dias que desespero solitário; são raras as mulheres que me cabem e entram pelo coração, e o habitam, tão raras que com a força dos ventos,

me tomam de emoção; sim porque no vento, não entra o coração... ele açambarca!!!

São tão meras as mulheres que nos moldam o tino e nos guiam as mãos em cada andança, tão poucas as que dizem sonhos sem sonhar, tão poucas as que têm o tamanho exacto do amor.

Paulo Martins

PauloMartins
Enviado por PauloMartins em 26/02/2011
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T2817176
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