Os 15 Minutos de Fama

Circula pela Internet a notícia, melhor dizendo, a fofoca quanto aos socos e pontapés ocorridos entre o casal Michael Douglas/Catherine Zeta-Jones, e um "paparazzi", em plena recepção de um famoso hotel. Então fica aquela pergunta: qual seria o preço da fama? Valeria a pena tornar-se famoso para depois ter que fugir pelas portas traseiras de um hotel ou agredir os fãs ou os fotógrafos que só pedem um pouco de atenção? Ou seria melhor ser um eterno desconhecido? É uma pergunta difícil de ser respondida se analisada pelo prisma da vida moderna. Isto porque este termo “paparazzi” é coisa de alguns anos, de um passado bastante recente. A morte trágica e lamentável da linda e simpática princesa Diane foi o precursor de outros casos de delírio populesco que vem se alastrando mundo afora. Acredita-se que fama seja o reconhecimento de alguém que, por mérito, deixa ou deixou um trabalho acima da média, angariando, com isto, a simpatia e o respeito do povo. Mas, não é bem o que vem acontecendo no mundo moderno.

Contanto que se torne famoso, não importa o que se faça ou deixe de fazer. Vai aí um precipício de diferença entre ser conhecido e ser reconhecido. Vender a imagem, sem levar em conta no que isso vai dar já se tornou padrão do comportamento artístico. Com apoio do empresariado que tem como prioridade o ganho gigante e rápido, fica dificílimo depurar o gosto comum a fim de extrair o melhor. A ânsia do faturamento e da concorrência não tem levado em conta a opinião pública. O derrame em quantidade que atende à demanda ávida de excitação acaba por deturpar o conteúdo intrínseco da ética comercial. A galinha dos ovos de ouro, sustentadora das baixas estações do consumo desenfreado deram lugar ao quantitativo, na base do contrato numérico em que o intermediário dita os serviços e o interessado aceita o artista; em outras palavras, vende-se a arte como mercadoria de armazém. A consequência disto é uma proliferação desmesurada de pseudo artistas que, como estrelas cadentes, desfilam diante dos nossos olhos.

A fama vem de intrometida, canalizada na beleza física, na juventude, trazendo, na garupa da desolação, o talento e a arte. Então, a fama, que deveria ser a consequência, acaba secundária do fator econômico; o famoso tornou-se famoso porque tem dinheiro, seu valor como ser humano é deturpado e ele passa a ser vítima da própria vontade de ser gente. Não é ele o culpado; longe disso. O declínio, que deveria ser natural com uma aposentadoria, idade avançada ou similar, acaba vindo por fatores externos e involuntários. A depressão denuncia a ciência do próprio artista de que não será natural o desenlace de sua arte; ele reconhece que a situação foi forçada. É por isso, obviamente, que, nunca, como agora, o uso de drogas e entorpecentes esteve tão ligado à classe artística. Não deixa de ser lamentável que isto ocorra. Não podemos, é claro, generalizar este quadro. O verdadeiro profissional, que impôs, pelo próprio autorrespeito, a fama vinda de um público especial tem como missão não deixar que o germe da pasmaceira artística e da negociata carcoma o que ainda resta de valor no mundo para ser mostrado.

O público é o que há de mais valioso para o artista; a empatia precisa ser o ápice da naturalidade. Não deixar que a riqueza suplante a simpatia nem que a altanaria destrua a humildade perante os que o fizeram chegar lá. Uma coisa é, e sempre será convictamente certa: independentemente da manipulação empresarial e da soberania da grana, é sempre o povo que irá erguer ou fazer decair todo e qualquer artista. Não há beleza, juventude ou fama que venha a superar a descrença popular ou a sua desilusão. O povo põe, o povo tira. Tem sido assim ao longo de eras e não tem porque ser diferente agora. Os dias idos de Grécia e Roma antigas veem-se hoje ainda presentes na consciência popular por imposição do próprio estado de coisas, quando não deveria ser assim. O avanço da humanidade como um todo poderia estar paralelo ao avanço tão benéfico da mente no que diz respeito ao desenvolvimento e crescimento humanos; por isso, há esperança.

A luta diária desenfreada pela sobrevivência faz algumas pessoas, sentenciadas pela prematuridade persistente, a aceitar ofertas falaciosas em troca de sua capacidade, ainda que tenham que se expor ao descrédito público disfarçado em elogios ou audiência. Os quinze minutos de fama parecem dar lugar a autoestima; a ilusão do ganho fácil e rápido perde para o anseio da valorização e a concorrência por essa forma deturpada de se mostrar ilude os interessados; quanto maior o número de concorrentes, mais perniciosa foi a oferta, o que torna ainda mais canceroso o terreno cuja arte é, por direito inalienável, detentora insofismável. Sempre o interesse comercial, sobejante, em detrimento ao real valor artístico. Muito embora, isto esteja presente mundo afora, não há porque entrar-se em desespero. Não é esta a natureza humana, como também não é a natureza da arte. Estamos rodeados pela beleza artística e podemos usá-las a nosso favor extraindo, do seu potencial, o nosso meio de vida.

Fazer da vida uma exposição do belo através da arte é responsabilidade de toda a humanidade. Fazer da arte um meio profissional de vida é função de todo artista. O problema surge quando a percepção embota a razão e, mesmo que a arte apareça, se o artista não acompanha a sua evolução, evoluindo também como doador e dominador dessa arte e tenta usá-la para projeção exclusiva do seu status de vida, o desequilíbrio toma o lugar da grandiosidade e quem perde com isto é o próprio artista que acaba sofrendo o desprezo do público. Prova disso são os nomes que surgem no cenário artístico e desaparecem em seguida, após venderem a imagem instantânea do carisma comercial.

Diferenciar fama verdadeira, produto de anos a fio de dedicação à verdadeira arte, que encanta e deixa saudades seria o caminho para a satisfação bilateral, artista e público. Nesses casos, dar um autógrafo e posar para uma foto seria um ato mais do que agradável. Seria reconhecer e valorizar os que, com sinceridade e carinho, sempre valorizaram a verdadeira arte e o verdadeiro artista.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 26/02/2011
Reeditado em 26/02/2011
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