AS LACUNAS DO TEMPO

Tudo nesta vida tem os dois lados, quase sempre antagônicos, e até passar de forma bem longeva pelo tempo, embora nem sempre tão tranquila, TAMBÉM tem lá a sua parte vantajosa e até hilariante.

Claro que falo também por mim que vez ou outra já me pego tentando lembrar de algo...como um computador provido de memória RAM DE POUCOS MEGAS, e que fica insistentemente buscando pelos dados esquecidos...até que pumba!-lembro do que buscava.

Doença?

Claro que nem sempre.

Há uns lapsos de memória considerados benignos, que acontecem com todos, jovens e não tão jovens assim, e que muitas vezes decorrem de períodos de extremo cansaço e stress mental, e que pouco interferem na atividade funcional do dia a dia.

E eu que gosto muito de conversar com pessoas de todas as idades, venho percebendo um fato muito curioso, que com um tempo bem longínquo de vida as pessoas vão se desinteressando pelo que, de fato, não tem muito interesse para elas e principalmente, nem para os outros.

Por exemplo, é mais que natural mulher esconder idade.

Tenho uma amiga bem idosa que não conta a idade nem ao médico!

Outro dia a acompanhando numa consulta respondeu ao doutor..."ah só falo minha idade se o senhor me prometer que não conta para ninguém", isto depois do médico insistir que a idade era importante para certas probabilidades diagnósticas.

Porém o que percebo destoa do que relato.

Tem gente que com o tempo pára de contar o tempo, e eu acho isso incrível e salutar, e certa vez ao perguntar a idade de alguém, mera pergunta com objetivos importantes, dele eu ouvi assim: "Ah, sei lá, já não conto mais meu tempo, faz as contas aí pra mim, sou de vinte e cinco..."

Depois daquele dia parei para observar como o fato se repete...e claro, fiquei a me perguntar o porque disso.

Obviamente que nossos valores mudam com o tempo, e depois de muito tempo o tempo perde seu valor absoluto para ter um valor bem relativo, assim como dizem ser ele "medida de relatividade".

Então descobri que depois de MUITO TEMPO as pessoas param de brigar com o tempo para fazer as pazes com ele...e com a vida que ele significa, deve ser isto.

Percebo que assim já não importa mais o tempo que temos mas como passamos e vivemos o tal do tempo.

Tudo isso para exemplificar o que ouvi hoje duma senhorinha que conheci ao acaso, cujo diálogo também me surpreendeu:

" A senhora é daqui de São Paulo?" perguntei.

"Não, não sou daqui não, eu nasci lá em Portugal" me dizia ela, super ágil e lúcida.

"É mesmo? De qual lugar de Portugal?- lhe perguntei entusiasmada.

"Ora pois, já nem me lembro, já nasci há tanto tempo..."

De fato, há uma certa tranquilidade sábia em se passar demasiadamente pelo tempo.

Decerto que o importante é ter nascido, n"algum dia, n'algum lugar lá da bela Terrinha...

O resto...é vida. É só o que importa.